Há cinco séculos, surgiu no Extremo Oriente o kintsugi, uma apreciada técnica artesanal com o objetivo de reparar uma tigela de cerâmica quebrada.
Seu proprietário, o xogum Ashikaga Yoshimasa, muito apegado a esse objeto indispensável para a cerimônia do chá, mandou consertá-lo na China, onde se limitaram a fixá-lo com alguns grampos toscos.
O reparo de grampos também, foi usado na Europa (na Grécia Antiga, na Inglaterra e na Rússia entre outros) e na China como uma técnica de reparo para peças particularmente valiosas.
Insatisfeito com o resultado, o senhor feudal recorreu aos artesãos de seu país, que propuseram finalmente uma solução atrativa e duradoura.
Encaixando e unindo os fragmentos com um verniz polvilhado com ouro, eles restauraram a forma original da cerâmica, embora as cicatrizes douradas e visíveis tenham transformado sua essência estética, evocando o desgaste que o tempo provoca sobre as coisas físicas, a mutabilidade da identidade e o valor da imperfeição.
Assim, em vez de dissimular as linhas de fissura, as peças tratadas com esse método exibem as feridas de seu passado, adquirindo uma nova vida.
Tornam-se únicas e, portanto, ganham beleza e intensidade.
Alguns objetos tratados com o método tradicional do kintsugi – também conhecido como “carpintaria de ouro” – inclusive chegaram a ser mais apreciados que antes de quebrar.
Os colecionadores gostaram tanto da nova arte que alguns foram acusados de deliberadamente esmagar cerâmicas valiosas para que pudessem ser reparadas com as costuras de ouro kintsugi.
O kintsugi logo se associou aos vasos cerâmicos usados no chanoyu (cerimônia de chá japonesa).
Enquanto o processo é atribuído aos artesãos japoneses, a técnica foi aplicada a peças de cerâmica de outras origens, incluindo a China, o Vietnã e a Coreia.
Desse modo, a técnica se transformou numa potente metáfora da importância da resistência e do amor próprio frente às adversidades.
Como uma filosofia, kintsugi pode ter semelhanças com a filosofia japonesa de wabi-sabi, a aceitação do imperfeito ou defeituoso.
Pode relacionar-se também, com a filosofia japonesa de “não importância” que engloba os conceitos de não-apego, aceitação da mudança e destino como aspectos da vida humana.
A estética japonesa valoriza as marcas de desgaste pelo uso de um objeto.
Isso pode ser visto como uma razão para manter um objeto mesmo depois de ter quebrado e como uma justificação do próprio kintsugi, destacando as rachaduras e reparos como simplesmente um evento na vida do objeto, em vez de permitir que o seu serviço termine no momento de seu dano ou ruptura.
Existem alguns estilos ou tipos principais de kintsugi:
Rachadura, o uso de pó de ouro e resina ou laca para anexar peças quebradas com mínima sobreposição ou preenchimento de peças em falta.
A laca é incrustação resinosa, produzida em certas árvores, resultante da secreção de insetos, como Coccus lacca, encontrados em países do oriente como a Índia e a China
Método de partes onde um fragmento da cerâmica não está disponível e a totalidade da adição é um composto de ouro ou ouro e laca.
Chamada conjunta, onde um fragmento de forma semelhante mas não correspondente é usado para substituir uma peça ausente do recipiente original criando um efeito de retalho.
Embora originalmente ignorado como uma forma de arte em separado, o kintsugi e métodos de reparação relacionados têm sido destaque em exposições na Galeria Freer no Smithsonian, Washington, e no Metropolitan Museum of Art, Nova York, ambos nos Estados Unidos.
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