O estilo começou em 1901, mas foi denominado e reconhecido como um movimento artístico em 1905, em Paris, no Salão de Outono e desenvolveu-se até 1907.
Os artistas desse período foram denominados do francês le fauves, as feras, porque eles não seguiam os cânones impressionistas vigentes na época. Usavam as cores puras e intensas, sem misturá-las ou matizá-las.
Quem lhes deu este nome foi o crítico conservador Louis Vauxcelles, pois as pinturas fovistas estavam expostas ao lado de uma estatueta renascentista de um menino, no Salão de Outono, “um Donatello entre as feras” disse ele, comparando os artistas fovistas com feras selvagens.
O Dicionário Houaiss indica fovismo como um termo homônimo de Fauvismo.
O campo da criação artística é atingido fortemente pela velocidade da Revolução Industrial, o artista possui, diante de si, cada vez mais informações em razão das mudanças e dos acontecimentos de sua época. Há um novo propósito: pintar as sensações que despertam o estado de espírito no livre curso dos impulsos interiores.
Os pintores fovistas receberam influência das obras de Van Gogh, por seu emocionalíssimo e ardor passional no uso das cores, e por Gauguin, com seu primitivismo e visão sintética da natureza.
Os princípios deste movimento artístico são:
- Criar em arte não tem relação com o intelecto e nem com sentimentos;
- Criar é seguir os impulsos do instinto, as sensações primárias, sem preocupação e sem cuidados de ordem intelectual;
- A cor pura deve ser exaltada, a luz solar deve ser conseguida através de orquestrações visuais e coloridas;
- As linhas e as cores devem nascer impulsivamente e traduzir as sensações elementares, no mesmo estado de graça das crianças e dos selvagens.
Características da pintura:
- Simplificação das formas, não há busca pela perspectiva;
- Pincelada violenta, espontânea e definitiva;
- Ausência de pinturas ao ar livre;
- Colorido brutal, pretendendo a sensação física da cor que é subjetiva, não correspondendo à realidade;
- O movimento rítmico das linhas, texturas e para dar continuidade dos elementos desenhados;
- Uso exclusivo das cores puras, assim como saem das bisnagas, há pouca ou nenhuma gradação entre os matizes;
- Pintura por manchas largas, formando grandes planos;
- Impulsividade e experimentação, em vez de exaustivos estudos preparatórios.
Destacamos alguns dos principais artistas:
Henri Matisse (1869-1954), pintor francês, nas suas pinturas ele não se preocupa como realismo, tanto das figuras como das suas cores. O que interessa é a composição e não as figuras em si, como de pessoas ou de naturezas-mortas. Abandonou assim a perspectiva, as técnicas do desenho e o efeito de claro-escuro para tratar a cor como valor em si mesma. Dos pintores fovistas, que exploraram o sensualismo das cores fortes, ele foi o único a evoluir para o equilíbrio entre a cor e o traço em composições planas, sem profundidade. Foi, também, escultor, ilustrador e litógrafo.
Raoul Dufy (1877-1953), pintor, gravador e decorador francês. Contrastes tonais e a geometrização da forma caracterizaram sua obra. Impressionista a princípio, evoluiu gradativamente para o fovismo, depois de travar contato com Matisse. Morreu um ano depois de receber o prêmio de pintura da Bienal de Veneza.
Maurice de Vlaminck (1876-1958), nasceu em Paris, em uma família de músicos, foi o mais autêntico fovista, dizia: “Quero incendiar a Escola de Belas Artes com meus vermelhos e azuis”. Trabalhou junto com André Derain em um estúdio que mantinham juntos. Casou-se duas vezes e teve duas filhas com a segunda esposa.
André Derain (1880-1954), pintor francês, totalmente autodidata, começou a pintar aos 15 anos. Por volta de 1900, ligou-se a Maurice de Vlaminck e a Henri Matisse, com os quais se tornou um dos principais pintores fovistas. Nessa fase, pintou figuras e paisagens em brilhantes cores chapadas, recorrendo a traços impulsivos e a pinceladas descontínuas para obter suas composições espontâneas. Dizia, “As cores chegaram a ser para nós cartuchos de dinamite.” A obra de Derain mostrou uma superfície mais tranquila, que o resto dos fauvistas, produto da aplicação de tonalidades quentes e harmônicas. Sua obra agradou tanto ao galerista Vollard que ele tentou repetir com esse artista o sucesso alcançado com Monet, organizando em Londres uma exposição com suas obras mais fauvistas. No entanto, ao voltar, o pintor assinou um contrato com Kahnweiler, o marchand de Picasso. Foi assim que Derain entrou em contato com a elite cubista e abandonou o fauvismo. Após romper com o fovismo, em 1908, sofreu influências de Cézanne e depois do Cubismo. Na década de 1920, seus nus, retratos e naturezas-mortas haviam adquirido uma entonação neoclássica, com o gradual desaparecimento da gestualidade espontânea das primeiras obras.
Henri Rousseau, pintor francês, não era um fovista, mas a sua grande cena de selva na obra “O Leão Faminto Atacando um Antílope” foi exibida perto da obra de Henri Matisse e pode ter tido uma influência do nome pejorativo usado no comentário de Vauxcelles, publicado em 17 de outubro de 1905 em Gil Blas, um jornal diário, e passou para o uso popular.
As pinturas ganharam uma condenação considerável como “Um pote de tinta foi arremessado na cara do público”, escreveu o crítico Camille Mauclair, mas também alguma atenção favorável. A pintura que foi escolhida para os ataques da crítica foi “Mulher com um Chapéu”, de Matisse, e a compra deste trabalho por Gertrude e Leo Stein teve um efeito muito positivo sobre ele, que estava sofrendo a desmoralização da má recepção de suas obras.
Carta-Prefácio, de Maurice de Vlaminck, extraído de Lettres, Poèmes ET 16 Reproductions dês Oeuvres Du Peintre (Paris,1923):
Caro amigo,
Você me pergunta o que penso do movimento que se opera na “jovem pintura francesa” e em que obra estou trabalhando? Vou fazer o possível para satisfazê-lo.
Nunca vou ao museu. Fujo de seu odor, de sua monotonia e de sua severidade. Reencontro ali as iras do meu avô quando eu cabulava a aula. Empenho-me em pintar com o coração e os rins, sem me preocupar com o estilo.
Nunca me pergunto a um amigo como ele ama a sua mulher para amar a minha, nem que mulher devo amar; não me interessa como se amavam e, 1802. Amo como homem, e não como um colegial ou professor.
Não tenho de agradar a ninguém, a não ser eu mesmo.
O estilo a priori, como o cubismo, o rondismo, etc., etc., deixa-me indiferente. Não sou modista, nem médico, nem homem de ciência.
A ciência me dá dor de dente. Ignoro a matemática, a quarta dimensão, a seção áurea.
O “uniforme cubista” é muito militarista para mim, e você sabe como faço pouco o “gênero soldado”. A caserna me trona neurastênico e a disciplina cubista, e faz lembrar as palavras do meu pai: “O regimento te fará bem! Dar-te-á caráter! ”
Detesto a palavra clássico no sentido em que o público a emprega.
Os loucos me dão medo. A loucura raciocinada, matemática, cubista e cientifica de 4 de agosto de 1914 demonstrou-nos cruelmente a falsidade do resultado.
A “pintura”, caro amigo, é bem mais difícil e em mais tola que tudo isso. Se isso pode interessá-lo, alguns detalhes suplementares.
Não vou a enterros, não danço no dia 14 de julho, não aposto em corrida de cavalos e não participo de manifestações de rua. Adoro crianças.
Valminck
P.S. – Não confundir cozinha com farmácia.