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Arte Abstrata – Declaração de Piet Mondrian

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Datado de 1943, publicado no Boletim Museu de Arte Moderna de Nova York. Nesta declaração o artista Piet Mondrian tece seus comentários sobre a expressão vertical e horizontal de uma obra.

“A primeira finalidade de um quadro deve ser a expressão universal.

O necessário, num quadro, é realizar esse desígnio, numa equivalência de expressões verticais e horizontais.

Não realizei isso, que hoje sinto, em obras iniciais nos meus quadros intitulados ‘Árvore’ de 1911.

Predominava nele a ênfase vertical. O resultado foi uma expressão gótica.

A segunda finalidade deve ser a expressão concreta, universal.

Em minha obra de 1919 e 1920 (quando a superfície da tela era coberta por retângulos adjacentes) há uma equivalência da expressão horizontal e vertical.

Assim, o todo era mais universal do que nas obras em que as verticais predominavam.

Mas essa expressão era vaga. As verticais e as horizontais neutralizavam-se, o resultado era confuso, a estrutura se perdia.

Em meus quadros posteriores a 1922 creio ter abordado a estrutura concreta que me aprece necessária.

E em meus quadros mais recentes, como ‘Broadway Boogie Woogie’ (1942-1943, Museu de Arte Moderna, Nova York) e ‘Victory Boogie Woogie’, a estrutura e os meios de expressão são ambos concretos e estão em equivalência mútua.

Em meus quadros ‘cubistas’ como ‘Árvore’, a cor era vaga.

Algumas das minhas composições de retângulos de 1919 e até mesmo muitas de minhas obras anteriores foram pintadas em preto e branco.

Também isso estava muito longe da realidade. Mas em minhas telas posteriores a 1922 as cores foram primárias – concretas.

É importante discernir na arte dois tipos de equilíbrio:
1. equilíbrio estático;
2. equilíbrio dinâmico.

É compreensível que algumas pessoas sejam pelo equilíbrio e outras contra ele.

A grande luta, para os artistas, é a que visa aniquilar o equilíbrio estático nos seus quadros pelas oposições dos contrastes contínuas entre os meios de expressão.

É sempre natural aos seres humanos buscar o equilíbrio estático.

Ele é necessário, claro, para a existência no tempo. Mas a vitalidade na sucessão contínua do tempo destrói sempre esse equilíbrio.

A arte abstrata é uma expressão concreta dessa vitalidade.

Muitos apreciam, em minha obra anterior, exatamente aquilo que eu não quis expressar, mas que foi produzido por uma incapacidade de expressar o que eu desejava: o movimento dinâmico em equilíbrio.

…Se porém, um quadro de forma quadrangular for pendurado diagonalmente, como frequentemente planejei para minhas obras, esse efeito não se observa.

Só as margens dos quadros ficam a ângulos de 45º, e não o quadro.

A vantagem desse procedimento é que as linhas horizontais e verticais mais longas podem ser empregadas na composição.

Pelo que sei, fui o primeiro a colocar a pintura na frente da moldura, em lugar de coloca-la dentro dela.

Dá uma ilusão de profundidade, e por isso tomei uma moldura de madeira lisa e montei nela o meu quadro. Dessa maneira, dei-lhe uma existência mais real.

…Trazer o quadro para o nosso ambiente e dar-lhe existência real é o meu ideal desde que cheguei à pintura abstrata.

Acredito que a evolução lógica da pintura é o uso da cor pura e das linhas retas em oposição retangular; e creio que a pintura pode tornar-se muito mais real, muito menos subjetiva, muito mais objetiva quando suas possibilidades são realizadas na arquitetura de tal modo que a capacidade do pintor se une à capacidade construtiva.

…A expressão do cubismo – pelo menos no começo – foi expressar volume. Desse modo o espaço tridimensional – espaço natural – permaneceu .

O cubismo, portanto, continuou sendo basicamente uma expressão naturalista e foi apenas uma abstração – não a verdadeira arte abstrata.

Essa atitude dos cubistas para com a representação do volume no espaço era contraria à minha concepção da abstração, que se baseia na convicção de que esse mesmo espaço tem de ser destruído.

Em consequência, cheguei à destruição do volume pelo uso do plano. Foi o que realizei por meio de linhas que cortam planos. Mas ainda assim o plano permaneceu demasiado intacto.

Por isso passei a traçar apenas linhas e coloquei a cor dentro delas. Agora o único problema era destruir também essas linhas pelas oposições mutuas.

Talvez eu não me expresse claramente, mas minhas palavras podem dar alguma ideia das razões pelas quais deixei a influência cubista. Para mim o verdadeiro ‘Boogie Woogie’ busca realizar na música a mesma coisa que tento fazer na pintura: a destruição da melodia, que equivale à destruição da aparência natural; e a construção por meio da oposição constante dos meios puros – ritmo dinâmico.

Acho que o elemento destrutivo é excessivamente negligenciado em arte.”

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