Um dos períodos mais marcantes da história humana é a Pré-História. É chamado também de Era Ágrafa, período que antecedeu à invenção da escrita. Ganha esse nome porque é um período que não foi registrado por nenhum documento escrito, no entanto, o homem pré-histórico registrou sua evolução através dos seus instrumentos, armas, fósseis, utensílios, gravuras, pinturas e fragmentos de joalheria e ornamentação.
Tudo o que sabemos da raça humana que viveu nesse tempo é o resultado da pesquisa de antropólogos, historiadores e arqueólogos, que reconstituíram as evoluções dessa época.
A produção artística do homem pré-histórico, pelo menos a que foi encontrada e conservada, em grande parte, é representada por objetos portadores de uma utilidade, seja ela doméstica ou religiosa.
Como a duração da Pré-História foi muito longa, os historiadores a dividiram em períodos: Paleolítico Inferior (c. 500 mil a.C.), Paleolítico Superior (c. 30 mil a.C.), Neolítico (c. 10 mil a.C.) e a Idade dos Metais (c. 6 mil a 4 mil a.C.), baseado nas culturas encontradas na Europa, pois lembramos que no Oriente, desde o ano 5.000 a.C., existiram culturas com alto grau de civilização, que já tinham iniciado sua história.
Temos como objetivo estudar a evolução da arte da Pré-História, assim vamos conhecer sua história partindo do Paleolítico Superior, pois é nesse momento que os pesquisadores registram as primeiras manifestações artísticas.
PALEOLÍTICO SUPERIOR
Os homens do período Paleolítico Superior (c. 30 mil a 10 mil a.C.) eram nômades, deslocavam-se de um lugar para outro em busca de alimentos, ou seja, procuravam tudo o que era necessário para sustentar a vida por meio da caça, da pesca, da coleta de frutos, sementes e raízes. Os indivíduos confeccionavam e utilizavam objetos de pedra lascada, ossos e dentes de animais.
Nessas sociedades, os homens e as mulheres viviam em bandos, dividindo o espaço e as tarefas. Para se protegerem do frio, da chuva, e dos animais ferozes, buscavam abrigo nas cavernas ou reentrâncias de rochas.
A principal característica dos desenhos desse período é o naturalismo. Utilizavam as pinturas rupestres, isto é, feitas em rochedos e paredes de cavernas. Aparecem primeiro macarrões – pintados ludicamente sobre barro mole – impressões de mãos e pés, e mais tarde o desenho.
O artista desenhava e pintava os seres, um animal, por exemplo, do modo como o via de uma determinada perspectiva, reproduzindo a natureza tal qual sua vista captava. Tudo parece indicar uma relação com ritos ou crenças e à apropriação. Para homens como os do Paleolítico Superior, desconhecedores da agricultura e da domesticação de animais, caçadores sempre ao capricho de clemência do tempo e provavelmente ao azar, sempre temerosos pelo dia de amanhã, esses animais eram tudo.
Atualmente, a explicação mais aceita é que essa arte era realizada por caçadores, e que fazia parte do processo de magia por meio do qual se procurava interferir na captura de animais, ou seja, o pintor-caçador do Paleolítico supunha ter poder sobre o animal desde que possuísse a sua imagem. Acreditava que poderia matar o animal verdadeiro desde que o representasse ferido mortalmente num desenho.
Os primeiros Homo Sapiens refugiaram-se nos lugares que a natureza lhes oferecia. Esses locais poderiam ser aberturas nas rochas, cavernas, grutas ao pé de montanhas ou até no alto delas.
As marcas da presença humana do Período Paleolítico podem ser vistas até hoje em pinturas rupestres encontradas em cavernas, preservadas até hoje, onde eles desenhavam cenas do seu cotidiano. Existem vários exemplos pelo mundo, que demonstram a pintura rupestre, destacamos abaixo algumas delas.
A Caverna de Altamira, no município de Santillana Del Mar, na Espanha, há quase uma centena de desenhos feitos há 14 mil anos, descobertos por acaso em 1879, por Marcelino Sanz de Santoula, que morreu em 1888 sem ter conseguido que se reconhecesse a validade do seu achado, pois, a autenticidade só foi reconhecida em 1902.
A Caverna de Lascaux, em Dordonha, na França, que teve suas pinturas descobertas em 1940, datadas de 15 mil a 17 mil anos a.C. As ilustrações retratam com excelentes detalhes numerosas espécies de animais como cavalos, cervos, bovinos e felinos. Entre os desenhos há apenas uma figura humana desenhada na gruta: um homem com cabeça de pássaro. A cor preta, por exemplo, contém carvão moído e dióxido de manganês.
Na Caverna de Chauvet, localizada no sul da França, no Vallon-Pont-d’Arc. São 425 figuras de animais, sendo principalmente rinocerontes, leões e mamutes, gravados nas paredes e estalactites. Descoberta ao acaso por espeleólogos amadores, em 1994, as pinturas presentes na caverna são consideradas as mais antigas produções artísticas que se têm conhecimento. Possuem alto nível de elaboração das representações pictóricas. Técnicas de sombreamento das imagens, de raspagem das paredes antes de pintá-las e o esfumaçamento das cores evidenciam a complexidade técnica desenvolvida pelos seres humanos do Paleolítico para expressar artisticamente as experiências de sua vida.
A gruta de Niaux, no sul de França, na região dos Pireneus, no vale de Vicdessos, descoberta pelo arqueólogo Émile Cartailhac, em 1906, possui uma galeria larga designada de Salão Negro. Nessa sala há 13 mil desenhos magníficos de bisontes, cavalos e cabras.
Acredita-se que os materiais mais usados como aglutinante para as pinturas rupestres foram sangue, argila, excrementos humanos, látex de plantas, gordura e clara de ovos de animais. A cor era obtida misturando-se o pó de rochas, com destaque para o óxido de ferro, que tem a coloração vermelho-alaranjada.
Além das pinturas, eles produziram algumas peças de artesanato bastante simples. Vestiam-se de peles e couros de animais que conseguiam abater com suas armas rudimentares.
A descoberta e o domínio do fogo trouxeram-lhe muitos benefícios como aquecimento, cozimento dos alimentos, especialmente a carne, e da argila, e facilitava a habitação em cavernas pela iluminação e proteção contra animais selvagens.
Os artistas do Paleolítico Superior realizaram também trabalhos em escultura. Mas, tanto na pintura quanto na escultura, predominam as figuras femininas com a cabeça surgindo como prolongamento do pescoço, seios volumosos, ventre saltado e grandes nádegas. A maioria dos especialistas coincide em atribuir a estas “vênus” paleolíticas certos fins culto-mágicos relacionados à fecundidade feminina. Estudos etnológicos recentes sobre comunidades primitivas atuais sugerem que ditas estatuetas possam ser representações de divindades ou espíritos protetores de animais e homens, que asseguravam a existência daqueles e o êxito da atividade de caça destes.
MESOLÍTICO
O período Mesolítico ou Idade Média da Pedra (c. 9 mil a 5 mil a.C.) só existiu em algumas regiões do mundo onde não houve transição direta entre os períodos Paleolítico e Neolítico, pois, a evolução histórica se deu diferente em determinadas regiões.
Trata-se de um período de transição, em que as populações se tornaram mais sedentárias e descobriram novas fontes de alimentos, tais como moluscos e ervam comestíveis, agora que a maior parte do mundo encontrava-se livre do gelo.
Os hábitos das culturas do Mesolítico estavam pautados em assentamentos estacionais de inverno e acampamentos de verão, embora em algumas regiões costeiras europeias e no Próximo Oriente começassem a viver de modo mais sedentário.
As armas mais abundantes eram os arcos, feitos de madeira e tendões de animais, com flechas que incorporavam na sua ponta micrólitos de variadas formas geométricas. Também utilizavam flechas manufaturadas inteiramente em osso, em corno ou em madeira.
A arte tornou-se conceitual e racionalista, baseada no geométrico e no abstrato. No Levante espanhol grupos humanos deixaram pinturas mais esquemáticas tratando cenas mais complexas de caça, de danças e ritos mágicos.
Para certos autores a revolução neolítica começou a gestar-se realmente durante o Mesolítico. Durante esse período apareceram grupos de caçador-coletores especializados em escassos tipos de recursos abundantes e seguros, que podiam ser armazenados durante boa parte do ano, o que lhes permitiu aumentar a demografia e tornarem-se sedentários. A acumulação de bens teria provocado as primeiras desigualdades sociais e a aparição das hierarquias, encabeçadas por aqueles que teriam se encarregado da gestão de excedentes.
NEOLÍTICO
O termo Neolítico foi adotado porque as armas e os instrumentos de pedra passaram a ser feitos então pelo método de polimento mediante atrito, ao invés da fratura e separação de lascas, como nos períodos anteriores. Por isso, também é chamada de Idade da Pedra Polida (c. 10 mil a 5 mil a.C.).
A fixação do homem do Neolítico foi garantida pelo cultivo da terra e pela manutenção de manadas, ocasionou um aumento rápido da população e o desenvolvimento das primeiras instituições, como família e a divisão do trabalho.
Assim, o homem do Neolítico desenvolveu a técnica de tecer panos, de fabricar cerâmicas e construiu as primeiras moradias, constituindo-se os primeiros arquitetos do mundo e passou a ser sedentário, fixando-se a terra, criando as primeiras aldeias e cidades.
Desse período temos as construções denominadas Dolmens, que consistem em duas ou mais pedras grandes fincadas verticalmente no chão, como se fossem paredes, e uma grande pedra era colocada horizontalmente sobre elas, parecendo um teto.
Encontramos também os Menires que são monumentos megalíticos, pedras gigantes cravadas verticalmente no solo, dispostos sozinhos ou em fileiras. Cromlech são menires dispostos em círculo.
O Santuário de Stonehenge, em Salisbury, no sul da Inglaterra, pode ser considerado uma das primeiras obras da arquitetura. Ele apresenta um enorme círculo de pedras erguidas a intervalos regulares, que sustentam traves horizontais rodeando outros dois círculos interiores. No centro do último está um bloco semelhante a um altar. O conjunto está orientado para o ponto do horizonte onde nasce o Sol no dia do solstício de verão, indício de que se destinava às práticas rituais de um culto solar. Lembrando que as pedras eram colocadas umas sobre as outras sem a união de nenhuma argamassa.
Outras construções com função religiosa estão na ilha de Malta, como o Templo de Ggantija e os menires de Carnac, na França.
O homem, que se tornara um camponês, não precisava mais ter os sentidos apurados do caçador do Paleolítico, e o seu poder de observação foi substituído pela abstração e racionalização. Como consequência surge um estilo simplificador e geométrico, sinais e figuras mais que sugerem do que reproduzem os seres. Os próprios temas da arte mudaram, começaram as representações da vida coletiva.
Além de desenhos e pinturas, o artista do Neolítico produziu uma cerâmica que revela sua preocupação com a beleza e não apenas com a utilidade do objeto, pois armazenava e transportava os grãos excedentes da agricultura. Na mesma época em que se inventou a cerâmica – por volta de 5 mil a.C. – o homem conheceu os metais.
IDADE DOS METAIS
A Idade dos Metais (c. 6 mil a 4 mil a.C.) foi marcada pela descoberta da técnica de metalurgia, fabricando diversos utensílios com metais, como ferramentas, armas e utensílios para a comunidade. O primeiro metal utilizado foi o cobre. De início martelado a frio, depois fundido no fogo e moldado em formas de barro ou pedra. Mais tarde, o homem descobriu a liga do cobre com o estanho, obtendo o bronze, que é um metal mais resistente. O bronze foi muito utilizado na fabricação de espadas, armaduras, ferramentas e objetos de adorno. Com o uso de forjas e foles, a metalurgia melhorou e o homem aprendeu a lidar com ferro.
Nesse período, o homem inventou a roda, o arado de bois e aparecem os primeiros registros da escrita.
Durante esse período, as pequenas aldeias de agricultores transformaram-se em núcleos urbanos, submetidas à autoridade política de um chefe. Apesar da caça ser uma atividade importante, os seus moradores também criavam ovelhas e gado para alimentação e vestimentas.
TÉCNICA DO CARBONO-14
Texto de LAHR, Marta Mirazón. Folha de S.Paulo. 15 Junho 1997.
O carbono é um dos elementos mais importantes na composição dos organismos. Os seres vivos absorvem constantemente uma forma estável desse carbono, o carbono-14, que tem uma “meia-vida” de cerca de 5.730 anos (meia-vida é o tempo necessário para reduzir pela metade, através de desintegração, a massa de uma amostra desse elemento radioativo). Depois que morre, o organismo deixa de receber carbono-14. Esse, agora um fóssil, vai perdendo seu carbono-14 pela desintegração (ou “decaimento”). Para medir o que restou de C-14 é preciso queimar um pedaço do fóssil, transformando-o em gás, que é analisado por detectores de radiação. O C-14, ao se desintegrar emite elétrons que podem ser captados pelos detectores. O índice de C-14 é comparado com o carbono não radioativo, o C-12, para se checar quanto do carbono radioativo decaiu, e com isso determinar a data na qual o organismo morreu. Uma variante mais moderna da técnica é a AMS (sigla em inglês para espectrometria de massa por acelerador), que também mede a proporção na amostra do carbono-14. Sua vantagem é poder fazer a medição, diretamente, sem que seja necessário queimar parte razoável da amostra para fazer o teste. A datação por esse método é especialmente valiosa para materiais orgânicos.