Anita Catarina Malfatti nasceu na cidade de São Paulo no dia 2 de dezembro de 1899, mesmo ano da Proclamação da República no nosso país. Seus pais Samuel Malfatti engenheiro imigrante italiano e Eleonora Elisabeth Krug pintora norte americana de origem alemã.
Logo que entrou na escola se interessou em aprender ler e escrever e também, já começava a traçar linhas com muita habilidade. Sempre interessada em livros e revistas, que eram a base da sua diversão.
Como sua família prezava uma educação tradicional teve uma governanta alemã Miss Browne, que a ajudou no desenvolvimento da sua mão esquerda, visto que o braço direita tinha um defeito congênito, e no aprendizado da arte e da literatura.
Aos 13 anos iniciou seus estudos de pintura e o gosto pelas cores começava a dominar seus pensamentos.
Quando seu pai faleceu, junto com a mãe e os irmãos foram morar juntos com os avós maternos. Aos 17 anos, para ajudar nas despesas, Anita começa ensinar pintura para crianças.
O sonho de estudar em Paris parecia muito distante, porém seu tio Jorge Krug proporcionou meios para que acompanhassem duas amigas que foram estudar música na Alemanha.Em 1910 quando chega em Berlim o cenário artístico europeu fervilhava em movimentos vanguardistas muito diferente da São Paulo que ela havia deixado.
As amigas e Anita visitaram museus e assistiram muitos concertos. enquanto acompanhava as amigas no Centro Musical, recebeu orientação para estudar no ateliê de um artista arrojado: Fritz Burger. Foi seu primeiro mestre e que lhe ensinou a analisar cores e fazer experiências com elas.
Prestou exames para a ingressar na Academia Real de Belas Artes. Aprovada, matriculou-se nas disciplinas de História da Arte, Perspectiva e Pintura, porém a Arte Acadêmica não era seu desejo e deixou os estudos após o primeiro ano de curso.
Durante as férias de verão foi a 4ª Sonderbund, exposição em Colônia, Alemanha conhecendo o trabalho de Van Gogh, Cèzanne, Picasso, Gauguin.
No final daquele ano conheceu Lovis Corinth o “homem de todas as cores” e passou a ter aulas com ele. Aprendeu também, a fazer gravuras em metal.
Interessada no movimento Expressionista foi com o professor Ernst Bischoff Kulm que aprendeu os segredos dessa arte.Retratava o que sentia, era o gesto e o gosto colorido compondo suas telas.
Com a aproximação da 1ª Guerra Mundial voltou ao Brasil sem antes conhecer outros lugares da Europa.
Em 1914 quando chegou ao Brasil trouxe na bagagem o sentimento e a experiência expressionista, mas o que realmente a tinha marcado foi a exposição de Sonderbund.
A família e os amigos esperavam que a Anita realizasse obras acadêmicas, o que a sociedade brasileira apreciava naquela época, e estranharam o colorido, as bruscas pinceladas e composição da imagem quando mostrou o quadro que fez do seu irmão Alexandre e da sua irmã Georgina.Anita Malfatti inicia nesse momento uma nova arte no Brasil.
Sem conseguir voltar para Europa para continuar seus estudos de arte, novamente patrocinada pelo tio Jorge Krug foi dessa vez, estudar nos Estados Unidos.
Seguindo as orientações da família em 1915 já em Nova York, Anita matriculou-se na tradicional escola “ Art Students League”. Estudava gravura e pintura, mas não estava satisfeita. Matriculou-se na “Independent School of Art” e conheceu o pintor e filosofo Homer Boss, que deixava os alunos pintarem à vontade. Ele orientou para retomasse sua arte e Anita define seu estilo: Expressionismo.
Em 1916, Anita volta ao Brasil e trazendo telas com distorções, de equilíbrio diferente, nada o que os brasileiros estavam acostumados.
Chega, escandaliza e decepciona. Suas pinturas são chamadas de mau gosto ou como dizia seu tio Jorge “coisas dantescas”. Suas telas de um colorido exuberante, expressavam a alma da artista, mas as pessoas não conseguiam perceber, o que deixou a artista triste e guardou suas telas e recomeçou por caminhos tradicionais.
Perdendo o apoio do seu tio, ela volta a lecionar e receber encomendas, distanciando-se do expressionismo.
Embora admirada por outros artistas, a sua exposição de 13 de dezembro de 1917 gera uma critica dura e severa de Monteiro Lobato no artigo intitulado “A propósito da exposição de Malfatti”. A reação da sociedade foi imediata com a devolução das telas vendidas e algumas destruídas o que deixou a artista arrasada.
Valorizada por Oswald de Andrade, foi dado o sinal para o despertar de renovação, de romper com a arte acadêmica aqui no Brasil. Tinha sido dado o primeiro passo para o Modernismo.
Voltou a estudar academicismo no ateliê de Pedro Alexandrino, aprendendo elementos formais da composição e lá conheceu Tarsila do Amaral, que a principio estranhava a pintura da amiga Anita.
Em 1920 expôs novamente para tentar ganhar uma bolsa de estudo, foi preterida, mas durante a exposição conheceu Mario de Andrade, que a incentivava a pintar com a alma. Pintou “ A estudante”.
Em 1921, os modernistas começavam a se reunir e Anita desenhava a partir de modelos vivos, no ateliê de George Elpons. Tarsila do Amaral, que estudava na Europa, recebeu uma carta da amiga comunicando-lhe que voltava pintar as coisas que lhe agradavam.
Aproveitando o cenário da Independência do Brasil, foi inaugurada a Semana de Arte Moderna, no Teatro Municipal de São Paulo, em fevereiro de 1922, evento cultural mais importante do Brasil no século 20 e Anita finalmente teve suas obras destacadas.
Em 1923 ganha a esperada bolsa de estudos e embarca para a Europa, os artistas franceses influenciaram Anita, seus desenhos mais delicados, as figuras se alongam e a deformação já não é tão exagerada.
Como exigência da bolsa de estudos era dominar a arte acadêmica, Anita teve permissão para entrar no Museu do Louvre, Paris e em alguns museus de Florença, Itália para copiar algumas obras famosas.
Em 1928 volta ao Brasil e recebida como verdadeira artista, passou a expor e vender seus trabalhos, a ensinar desenho e ser convidada a participar de eventos ligados a arte, elaborou um curso de Historia da Arte, fez conferências.
Aos 62 anos, participou da I Bienal de Artes de São Paulo e considerada a pioneira da Arte Moderna no Brasil.
Em 1963 Anita Malfatti foi homenageada na VII Bienal Internacional de Arte com uma sala inteiramente dedicada ao seu trabalho.
Faleceu em 6 de novembro de 1964, aos 74 anos.
Deixou vivo seus ideais, sua coragem e as amizades que a ajudaram a mudar o cenário das artes no Brasil.