Nasceu em 21 de maio de 1471, em Nuremberg, filho de ourives que emigrara da Hungria. Sua mãe, Barbara Holper, era filha do mestre de seu pai. O casal teve 18 filhos – e Albrecht foi o terceiro. Quando criança frequentou a escola latina local e ali conheceu Willibald Pirckheimer, jovem da nobreza, que mais tarde se tornaria um respeitado estudioso humanista, ficaram amigos e manteriam correspondência por toda a vida. Depois de deixar a escola, Dürer estudou, como era costume, o ofício de ourives, na oficina paterna. Já demonstrava sinais de seu extraordinário talento artístico. Nas memórias que escreveu pouco antes de sua morte, comenta: “Meu pai sentia uma especial satisfação comigo, pois via que era ávido de saber como fazer as coisas e, assim ensinou-se o ofício de ourives, mas, ainda que eu pudesse realizar aquele trabalho com tanto capricho quanto se espera, minha alma era mais da pintura. Expus toda a questão a meu pai que, longe de se sentir feliz, lamentou o tempo perdido: mesmo assim, cedeu”.
Com 15 anos, ele começava a trabalhar como aprendiz no estúdio de Michael Wolgemut, um pintor de prestígio em Nuremberg. Em 1490, depois de 4 anos ali, Dürer partiu para o tradicional “ano de bacharel” alemão, um período de viagens por muitas cidades, quando então o jovem desfrutava a vida antes de se estabelecer e de assumir responsabilidades familiares. Dürer viajou pelo que era, na época, o Sacro Império Romano, e desse tempo de tantas viagens há poucas notícias e se conhecem poucas obras. Entre elas há, porém, uma tela: Autorretrato com Flor de Rícino de 1493. A flor, símbolo da fecundidade conjugal, tem sido interpretada como alusão ao noivado com Agnes Frey. Dürer retornou a Nuremberg para se casar, na primavera de 1494. Alguns meses após o casamento, partiria só, para sua primeira viagem à Itália.
O ponto culminantes dessa viagem à Itália foi Veneza. Com insaciável sede de conhecimento e com perseverança que também sempre o caracterizou, Dürer dedicou-se a aprender tudo o que os mestres contemporâneos pudessem lhe ensinar. Estudou a ciência da perspectiva e o retrato do modelo nu; copiou os trabalhos de Mantegna e de outros gravadores; e discutiu a respeito das diversas teorias da arte em meio ao círculo de pintores venezianos.
De volta para casa em 1495, levava em sua bagagem os rudimentos do Renascimento italiano e a ambição de transplantá-la para usa própria terra. Ganhava vida com xilogravuras e gravuras em metal, que sua esposa e sua mãe vendiam nos mercados públicos e nas feiras, e que corriam toda a Europa nas mãos dos mercadores.
No final do verão de 1505, Dürer voltava à Itália com o encargo de pintar retábulos para a associação dos comerciantes alemães, em Veneza – onde se estabeleceu por mais e um ano. Suas gravuras eram então muito conhecidas na Itália, respeitadas por artistas e por figuras eminentes, como o doge e o patriarca de Veneza que o visitavam em seu estúdio. Ele estava decidido a mostrar aos venezianos que não era apenas um desenhistas talentoso mas também um mestre da pintura e da cor, como o enigmático Giorgione, cujas imagens sombrias causavam grande admiração na época. Apesar disso, sua maior inclinação era a obra de Giovanni Bellini, grande mestre da geração anterior. Quando Bellini, aos 80 anos o visitava e elogiava seu trabalho, Dürer, então com 35 anos, vivia momentos de realização.
Apesar de declarar que sentiria falta do sol de Veneza, em 1507 chegava de volta a seu país. A situação em Nuremberg não mudara: continuavam poucas as oportunidades dos grandes encargos públicos – exatamente as bases em que os italianos erigiram a própria reputação. Assim, Dürer fo pouco a pouco abandonando a pintura para se concentrar mais em seu trabalho como gravador. Sua popularidade aumentou e, em 1509, ele pôde finalmente adquirir a casa que vivia.
De 1512 a 1520, Dürer trabalhou quase exclusivamente para o Imperador Maximiliano I, tornando-se uma espécie de decorador oficial: além de ilustrar manuscritos e livros, desenhava brasões e estandartes, projetava cortejos e colaborou na criação do Arco do Triunfo, uma composição imensa, em forma de arco e constituída por centenas de xilogravuras. Em 1513, foi feito cidadão honorário do Grande conselho de Nuremberg.
UM HOMEM DE SABEDORIA E FÉ
Em 1517, Martinho Lutero fez seu primeiro grande ataque à corrupção na Igreja, dando início à insurreição que culminaria na Reforma. Dürer lia avidamente os escritos de Lutero, que lhe chegavam à mãos por intermédio de reformadores como Filipe Melanchthon, um humanista erudito que, como o próprio Dürer, procurava transpor a distância entre o novo aprendizado da Itália e a nova fé da Alemanha. Os ensinamentos de Lutero parecem ter trazido certo alívio ao turbilhão de Dürer. Em 1520 ele iria escrever: “Se me acontecer, com a ajuda de Deus, de encontrar o dr. Martinho Lutero, gostaria de retratá-lo cuidadosamente gravando-o em cobre, para que permaneça a lembrança desse homem cristão, que me auxiliu a livrar-me de grande angústia – ocasionada pela morte da mãe em 1514.
Com a morte do Imperador Maximiliano I, em 1519, o conselho de Nuremberg suspendeu sua pensão vitalícia, levando-o empreender uma longa viagem aos Países Baixos a fim de se encontrar com o novo imperador e lhe pedir a renovação de sua anuidade. Dürer deixou Nuremberg em 1520, acompanhado pela esposa e por uma criada. Levava consigo gravuras em metal e xilogravuras e com elas pagou as despesas ao longo da jornada. Essa viagem foi do mais absoluto triunfo: em toda parte era recebido por homens ricos e poderosos, festejado pelos artistas como o maior artista alemão de seu tempo – ele concretizava, assim, o velho sonho de elevar o status público do artista.
Em Aix-la-Chapelle, assistiu à coroação do novo imperador, Carlos V, e teve sua anuidade confirmada. Dürer ainda pintou diversos retratos e vendeu muitas gravuras, mas era sua paixão por coleções – incluindo objetos como cascos de tartaruga, papagaios, corais, conchas e marfins – que fez da viagem, em seu todo, um prejuízo financeiro.
Estava em Antuérpia quando chegaram notícias da prisão de Lutero. Ele e a mulher voltaram o mais rápido possível para Nuremberg e, ao chegarem, em agosto de 1521, encontraram sua cidade mergulhada em tumultos. Amigos e alunos de Dürer haviam sido banidos sob acusação de ideias heréticas; na zona rural crescia o descontentamento que, mais tarde, explodiria na Guerra Camponesa de 1525. Dürer, embora cauteloso, não disfarçava sua simpatia pelos movimentos. Aliando tal sentimento à próprias preocupações religiosas, preparou sua última grande pintura, o retábulo “Os Quatro Apóstolos”.
ÚLTIMOS ANOS
Nos últimos anos de vida, Dürer concentrou esforços em seus escritos: publicou trabalhos sobre proporção e perspectiva, além de compor a crônica de sua família e as próprias memórias. Também deu início, mas não viveu o bastante para concluir, a uma obra contendo recomendações aos jovens artistas. Morreu em 6 de abril de 1528, aos 57 anos, em Nuremberg. Não deixou discípulos, mas o legado de sua obra ajudou a arte alemã a florescer, primeiro no Renascimento, depois no Romantismo. Entre os artistas de seu tempo foi, sem dúvida, o mais universal.
MARCAS REGISTRADAS
Dürer entalhava levemente o contorno da gravura antes de preenchê-la em detalhes, com linhas delicadas, que criavam sombra e textura. Sua maestria como gravador só seria igualada, depois, por Rembrandt (1606-1669). A técnica da xilogravura utilizada por Dürer já era popular na Alemanha, mas foi em suas mãos que atingiu nova dimensão expressiva. Ele traçava seus desenhos sobre uma chapa fina de madeira depois entalhada por artesãos; as partes salientes recebiam uma aplicação de tinta, sendo, a seguir impressas em papel. Outro aspecto surpreendente das gravuras e mesmo dos quadros de Dürer, é sua maestria nos mais diminutos detalhes. Elaborava infindáveis estudos de mãos, cabeças, objetos domésticos, plantas e animais.
Ele foi um dos primeiros artistas a usar o novo processo da água-forte em metal: explorou os complexos domínios da teoria da arte em busca de conhecimentos, publicando suas descobertas em tratados sobre medidas e proporções humanas, além de fazer anotações detalhadas os menores fenômenos naturais.
A arte de Dürer abrangem duas épocas, a medieval e a renascentista, e dois universos de sentimento italiano clássico e o espiritual nórdico. Ainda em vida, isso lhe valeu reconhecimento e louvores sem precedentes, alimentando seu espírito de autoavaliação orgulhosa, a ponto de escrever: “Deus frequentemente dá a capacidade de aprender e a perspicácia para realizar algo de bom para o homem ao qual se encontram semelhantes em seu próprio tempo, e ninguém o sucede tão cedo”.
Casamento por conveniência: enquanto Dürer viajava, desfrutando o tradicional “ano de bacharel”, seus pais – como era hábito – arranjaram-lhe uma esposa: Agnes Frey, filha de um comerciante local, tinha 15 anos quando se casou com o artista. Dürer casou-se ao regressar de sua viagem, mas não demorou para partir novamente, sozinho, para a Itália. Era esse o estilo de sua vida conjugal. Não teve filhos, e geralmente Agne devia se retirar, comendo na cozinha com os criados, quando o marido recebia visitas importantes. Na época, o casamento era mais um contrato comercial que sentimental. Viveu com a esposa e sua mãe durante o resto de sua vida numa magnífica casa em Siztelgasse, Nuremberg.