Nabis

Em outubro de 1888, depois de uma temporada em Pont-Aven, Paul Sérusier retorna a Paris trazendo um pequeno quadro elaborado de acordo com os princípios da nova pintura transmitidos por Gauguin: algumas manchas de cores vivas reunidas em um espaço bidimensional. Paul Sérusier mostra seu quadro aos colegas da Academia Julian, originando a criação do grupo dos Nabis (de Nevi’im: profetas, em hebraico), essa palavra foi descoberta pelo poeta Casalis.

Os artistas que o compõem esse movimento definem a si mesmos como profetas de uma nova arte. Defendem uma concepção decorativa da pintura, em que a cor realça o tema.

Os Nabis e os Sintetistas integram subcorrentes simbolistas. Os integrantes do grupo – Vuillard, Bonnard, Vallotton, Paul Ranson, Maillot e Paul Sérusier – consideram-se “videntes espirituais e proclamadores do novo Evangelho”. Colocam acento na necessidade do homem expressar-se seu Eu ou sua verdade profunda.

O Sintetismo foi assim definido por Denis: “Sintetizar é hierarquizar, submeter cada quadro a um só ritmo, a uma dominante. Simplificar para tornar inteligível”. Esse movimento tem origem na obra de Gauguim. Este ao trocar o conforto de Paris pela ilhas dos mares do Taiti disse que era preciso ir além da frisa de cavalos do Partenon e buscar as civilizações arcaicas. Em suas pinturas sacrifica tudo à cor pura, exalta a superfície e eleva a linha do horizonte para suprimir a perspectiva.

Os Nabis se dividem em dois grupos, àqueles mais afeitos às temáticas religiosas, esotéricas e abstratas – Paul Sérusier, Ranson, Maurice Denis e Roussel – e àqueles apaixonados pelas questões da vida moderna e pela poesia do cotidiano, representados por Vuillard, Bonnard, Maillol e Vallatton.

Para expressar suas visões e emoções, os Nabis lançam mão de um leque amplo de cores, às vezes suave, outras vezes viva. Todos eles nutrem uma admiração especial pelas obras singulares de seu predecessor Odilon Redon, cujas cores sofisticadas dão à pintura uma dimensão sobrenatural e paradisíaca.

Influenciados pelas artes decorativas, suas pinturas apresentam esboços grossos, cores brilhantes, achatada dimensionalidade e uma variedade de motivos, incluindo a paisagem e retrato.

Destacamos os artistas:

Édouard Vuillard (1868-1940) ilustrador e pintor francês. Mudou-se com sua família para Paris em modestas circunstâncias em 1878. Após a morte de seu pai, em 1884, recebeu uma bolsa de estudos para continuar sua educação. No Lycée Condorcet ele conheceu Ker-Xavier Roussel, além de colega de profissão, ele também seria o cunhado de Vuillard, que o aconselhou a não seguir a carreira militar. Vuillard então entrou na École des Beaux-Arts, onde conheceu Pierre Bonnard. Em 1885, Vuillard abandonou a École des Beaux-Arts e uniu-se ao seu amigo Roussel para trabalharem no atelier do pintor Diogène Maillart. Em 1888, juntou-se aos Nabis Les Nabis, contribuindo para a exposição do grupo na galeria de arte Le Barc de Boutteville. Posteriormente, dividiu um ateliê com os demais integrantes do movimento artístico.

Pierre Bonnard (1867-1947) pintor francês. Apesar de Bonnard ser um membro do grupo Nabis, ele não estava interessado no assunto obscuro desse movimento e não era um místico. Em vez disso, ele estava satisfeito, até mesmo fascinado, pelas cenas da vida diária ao seu redor. Por isso, ele tem sido chamado de pintor intimista. Para ele, a cor era um fim em si – uma maneira de experimentar o mundo. A cor era tão importante para Bonnard que quando ele misturava uma cor que o agradava, ele voltava a retocar outras de suas pinturas com essa cor. Pintou muitas de suas cenas de memória, mais para capturar o espírito do momento, em vez da pessoa ou do lugar exatos. Também desenhou móveis, padrões têxteis, cenários e fantoches feitos para espetáculos de marionetes, além de ilustração para livros. Embora ele é seja mais conhecido por suas pinturas, essas atividades adicionais também aplicava-se aos Nabis, que aplicaram sua estética à outras formas de arte.

Félix Vallotton (1865-1925) pintor e gravurista suíço. Ele foi uma figura importante no desenvolvimento da xilogravura moderna. Reconhecido também por seu interesse em estética decorativa e no nivelamento do plano do quadro. Pintou paisagens, naturezas mortas e retratos. Seus assuntos em xilogravura incluiu cenas domésticas, mulheres no banho, retratos e várias imagens de multidões de rua, como cenas de anarquistas e policiais atacando. As xilogravuras de Vallotton foram amplamente divulgadas em periódicos e livros na Europa, bem como nos Estados Unidos, e sugeriu uma significativa influência sobre a arte gráfica de Edvard Munch, Aubrey Beardsley, e Ernst Ludwig Kirchner.

Paul Ranson (1864-1909) pintor e escritor francês. Estudou na Escola de Artes Decorativas antes de se mudar para Paris, depois transferiu-se para Academia Julian, em 1886. Lá ele conheceu Paul Sérusier em 1888 e a partir de 1890, tornou-se um membro e um líder criativo da o grupo Nabis. Eles se reuniam em seu estúdio em Montparnasse. Em 1908, ele criou a Academia Ranson com sua esposa Marie-France, para ensinar as ideais e técnicas Nabi . Mesmo após sua morte, sua esposa continuou os trabalhos na academia.

Ker-Xavier Roussel (1867- 1944) pintor francês. Incorporou uma paleta de cores suaves e pinceladas grossas, Roussel focava a matéria natural e mítica, incluindo paisagens bucólicas e figuras fictícias. Ele é mais conhecido pelas pinturas de paisagens francesas geralmente retratando mulheres, crianças, ninfas e faunos em ambientes bucólicos.

Maurice Denis (1870-1943) pintor e escritor francês. Suas teorias contribuíram para as bases do cubismo, fovismo e abstracionismo. Teórico pioneiro que insistiu no nivelamento do plano do quadro, Denis criou obras pós-impressionistas brilhantemente coloridas que influenciaram profundamente a próxima geração de artistas modernos. Em sua famosa proposta de definição de pintura, de 1890, ele declarou: “Lembre-se que uma imagem, antes de ser um cavalo de batalha, um nu, uma anedota ou outros enfeites, é essencialmente uma superfície plana coberta de cores reunidas em uma determinada ordem.” Em 1898, ele produziu uma teoria da criação que encontrou a fonte para a arte no caráter do pintor : “O que cria uma obra de arte é o poder e a vontade do artista.”

Aristide Maillol (1861-1944) escultor, pintor e gravurista francês. Ele decidiu em tenra idade para se tornar um pintor, e se mudou para Paris em 1881 para estudar arte. Depois de várias aplicações e vários anos de vida com a pobreza, a sua inscrição no École des Beaux-Arts foi aceita em 1885. Gauguin encorajou seu interesse crescente na arte decorativa, e em 1893, Maillol abriu uma oficina de tapeçaria em Banyuls, produzindo obras cuja alta qualidade técnica e estética ganharam reconhecimento para renovar esta forma de arte na França. Começou a fazer pequenas esculturas de terracota em 1895, e dentro de alguns anos sua concentração na escultura o levou ao abandono de seu trabalho em tapeçaria. Faleceu aos 83 anos em um acidente automobilístico. Enquanto dirigia para casa durante uma tempestade, o carro em que ele era um passageiro derrapou para fora da estrada e capotou. Uma grande coleção da obra de Maillol é mantido no Musée Maillol, em Paris, que foi criada por Dina Vierny, modelo e companheira platônica de Maillol durante os últimos 10 anos de sua vida. Sua casa a poucos quilômetros Banyuls também foi transformada em um museu onde uma série de suas obras e esboços são exibidos.

Paul Sérusier (1864-1927) pintor francês. Foi pioneiro da arte abstrata e uma inspiração para o movimento Nabis. Ele estudou na Académie Julian e foi um monitor de lá em meados de 1880. No verão de 1888 ele viajou para Pont-Aven e se juntou ao pequeno grupo de artistas centrado lá em torno de Paul Gauguin. Enquanto estava em Pont-Aven, Sérusier pintou uma imagem que ficou conhecida como The Talisman (O Talismã), sob supervisão de Gauguin. A imagem foi um exercício extremo no Cloisonnism que se aproximava à abstração pura, caracterizado por cores lisas delimitadas por contornos escuros  Mais tarde, ele lecionou na Academia Ranson e publicou seu livro ABC de la peinture em 1921.

Odilon Redon (1840-1916) pintor e artista gráfico francês. Sua iniciação teve mais a ver com a arte gráfica do que com a pintura. De fato, Redon aprendeu as técnicas da gravura com Bresdin, influenciado pela obra de Doré. Como pintor, interessou-se pelas paisagens da Escola de Barbizon e pela obra de Rembrandt. A técnica mais utilizada por Redon era o pastel, que lhe permitia trabalhar as cores com texturas diferentes e bastante mescladas. Seu mundo de visões e sonhos, povoado de criaturas estranhas e às vezes monstruosas, fascinou os jovens do grupo Nabis e influenciou significativamente os surrealistas. Suas gravuras são ricas com uma visão muito pessoal de um universo de sonho.

O grupo Nabi cresceu a partir da obra de Paul Gauguin, especificamente, a ideia de que cor e forma pode representar experiência – que, tal como o historiador Nabi Charles Chassé disse: ” uma imagem só tinha sentido quando possuía estilo. Isso quer dizer que quando o artista tinha conseguido mudando a forma dos objetos que ele estava olhando e impondo-lhes contornos ou uma cor que expressa sua própria personalidade . ”

Os artistas Nabi consideravam-se iniciados de uma irmandade dedicada a explorar as fontes puras de arte, pessoal ou espiritual. Procuravam a beleza encontrada na natureza, eles aproveitaram o misterioso e místico mesmo nos assuntos da vida cotidiana.

Os Nabis expandiram sua estética para a área de artes aplicadas, bem como, incluindo pintura arquitetônica, telas decorativas, pinturas murais, cartazes, ilustrações de livros e projetos para o teatro.