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Arte Bizantina

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O cristianismo não foi a única preocupação para o Império Romano nos primeiros séculos de nossa era. Por volta do século IV, começou a invasão dos povos bárbaros e que levou Constantino a transferir a capital do império para Bizâncio, cidade grega, depois batizada por Constantinopla, no ano 330. A mudança da capital foi um golpe de misericórdia para a já enfraquecida Roma, facilitou a formação dos Reinos Bárbaros e possibilitou o aparecimento da arte bizantina.

Esta zona oriental, que já apresentava características diferentes durante o período paleocristão, evoluciona de maneira independente desde os finais do século V. Graças à localização de Constantinopla, a arte bizantina sofreu influências de Roma, Grécia e do Oriente. A união de alguns elementos dessas culturas formou um estilo novo, rico tanto na técnica como na cor.

A arte bizantina está dirigida pela religião. Ao clero cabia, além das suas funções, organizar também as artes, tornando os artistas meros executores.

O regime era teocrático e o imperador possuía poderes administrativos e espirituais, ele era o representante de Deus, tanto que se convencionou representá-lo com uma auréola sobre a cabeça, e, não raro encontrar um mosaico onde esteja juntamente com a esposa, ladeando a Virgem Maria e o Menino Jesus.

ARQUITETURA

A arquitetura das igrejas foi a que recebeu maior atenção da arte bizantina, elas eram planejadas sobre uma base circular, octogonal ou quadrada imensas cúpulas, criando-se prédios enormes e espaçosos totalmente decorados.

Na evolução da arquitetura e da arte bizantina podem-se distinguir três períodos, cada um dos quais inclui uma “idade de ouro”. O primeiro é propriamente uma continuação do paleocristão e tem seu momento mais representativo no reinado do imperador Justiniano (527-565). A partir da luta iconoclasta na primeira metade do século VIII quebra-se a continuidade, e com o restabelecimento do culto às imagens pelo concílio de 842 passa-se a uma segunda “idade de ouro”, que é a mais acentuadamente bizantina. A terceira virá depois da tomada de Constantinopla pelos cruzados em 1204, e tem grande interesse pela difusão das formas bizantinas até o Norte (Rússia) e Ocidente. A conquista de Constantinopla pelos turcos em 1453 porá ponto final a uma arte já em crise.

Com o imperador Justianiano empreenderam-se as mais famosas construções da arquitetura bizantina. As paredes são de tijolo, por vezes revestido exteriormente por lajes de pedra com relevos, e interiormente ocultam a sua pobreza com a policroma decoração de mosaico, mais tarde substituído pela pintura. Como suporte emprega-se a coluna, com dois tipos de capitéis: o primeiro derivado do coríntio caracteriza-se pelas suas folhas espinhosas de acanto, distribuídas em duas filas de oito, e nele conseguem-se efeitos profundos de claro-escuro ao empregar-se tanto o cinzel como o trépano; o segundo, mais simples, é denominado capitel impósito, que parece ter uma origem sassânida, em forma de tronco de cone revestido, cuja superfície se cobre nos edifícios mais ricos de uma decoração vegetal contínua e uniforme com cinzel e trépano em dois planos. Tende a desaparecer o ábaco, substituído por um corpo em forma de tronco de pirâmide invertida (cimácio). Mas o mais característico deste período é o emprego da abóboda como cobertura. Os tipos de abóbodas mais utilizadas são as de berço e aresta e, fundamentalmente, a cúpula, cuja construção se vê facilitada pelo emprego do tijolo como material de construção.

Há vários exemplos arquitetônicos bizantinos como a igreja dos Santos Sérgio e Baco, igreja de São Vital, em Ravena, Catedral Dourado em Antioquia, catedral de Bosra e a de São João de Esra, igreja de Santa Irene ou de Santa Paz (532), no entanto, destacamos uma obra-prima : a magnífica igreja de Santa Sofia.

Santa Sofia, dedicada a segunda pessoa da Santíssima Trindade – como Sabedoria Divina – foi construída entre 532 e 537 pelos arquitetos Antêmio de Tralles e Isidoro de Mileto, sob vigilância direta de Justiniano. De planta retangular, é dominada pela grande cúpula central, de 31 m de diâmetro e 55 m de altura, sobre perxinas. A parte inferior do casquete da cúpula está perfurada por uma série de janelas que se situam entre os arcos de reforço dispostos radialmente, de forma que a impressionante luminosidade dos vãos anula o efeito visual dos maciços a parece que flutua no ar. Desta maneira, impõem-se uma estética baseada na valorização do espaço segundo o eixo longitudinal dos pés à cabeceira do templo. Do lado da abside e do átrio contrabalaçam-se as grandes forças da cúpula mediante duas grandes éxedras ou quartos de esfera que, por sua vez se equilibram com outras menores, e aos lados por dois grossos apoios unidos através de riquíssimas arcadas com colunas verde antigo, pórfiro vermelho e mármore branco. Tal método tornou a cúpula extremamente elevada, sugerindo, por associação à abóbada celeste, sentimentos de universalidade e poder absoluto. Para aligeirar o peso de tão imensa cobertura, construiu-se com ânforas de argila. Rodas, de reduzido peso específico, incrustadas umas nas outras formando círculos concêntricos. Poucos anos após sua construção, a majestosa cúpula desmoronou como consequência do terremoto, mas foi de novo levantada, com a mesma técnica e traçado, reforçando os apoios laterais, em 558 sob a direção de Isidoro de Mileto. Ainda em 989, de novo danificada, foi preciso a intervenção de um arquiteto armênio.

A surpreendente grandiosidade do espaço criado em Santa Sofia, como, em seu tempo, a riqueza cromática dos altares, mosaicos e materiais, nos quais a simbólica luz reverbera como dando razão à afirmação de que “o que é radiante vem de dentro”, justificam a exclamação de Justianiano ao vê-la acabada: “Glória a Deus que me julgou digno de executar esta obra! Venci-te Salomão!”

Embora, a igreja tenha perdido a maior parte da decoração original de ouro e prata, mosaicos e afrescos, há uma beleza natural na sua magnificência espacial e nos jogos de sombra e luz, um claro-escuro admirável quando os raios de sol penetram e iluminam o seu interior.

Na etapa da segunda “idade de ouro”, que se inicia a meados do século IX, mantém-se o tipo de basílica com cúpula, mas predominam as de plano central e os modelos de reduzidas dimensões. O tipo mais frequente é o de cruz grega inscrita num quadrado, com abóbodas de berço nos quatro braços da cruz. Em Veneza, onde se conserva o edifício mais belo e mais famoso deste período: a igreja de São Marcos, iniciada em 1063 e terminada em 1095. Foi construída segundo o modelo da dos Santos Apóstolos de Constantinopla, com a novidade de acrescentar aos pés um amplo pórtico com várias cúpulas.

No Norte da Rússia, onde tradicionalmente se empregava a madeira como material de construção, a influência bizantina fez-se notar nos edifícios em pedra e tijolo. O centro introdutor da mesma situa-se em Kiev, onde se fundiram as influências bizantina, armênia e georgiana.

A este respeito, é significativa a semelhança da planta da igreja de Santa Sofia de Kiev (1017-73) com a igreja de Movk, no Cáucaso: quadrada, com cinco naves que terminam em cinco absides, sem equivalente entre os edifícios da capital bizantina.

Mais ao Norte, em Novgorod, nota-se mais a influência bizantina, ao mesmo tempo em que não se pode ignorar a exercida pelo românico germânico, especialmente na região de Vladimir. Estes aspectos são essenciais para a compreensão da originalidade da arte russa. Temos como exemplos, de meados do século XI, a Santa Sofia de Novgorod e a catedral de Assunção de Vladimir.

As novidades da terceira “idade de ouro” dizem respeito fundamentalmente à decoração. O tipo de planta mais difundido continua a ser o de cruz grega. O mais característico, no entanto, é a acentuação das diferenças provinciais e, em especial, a perda por parte de Constantinopla de seu papel de dirigente. Dentre outras, podemos citar as igrejas búlgaras de Preslav, Pliska e Ochrida, as romenas de Voronet, Dealu e Suceara, na Rússia, a catedral do Trânsito da Virgem, de 1326 e a da Natividade.

A arte bizantina não se extinguiu em 1453, pois, durante a segunda metade do século XV e boa parte do século XVI, a arte daquelas regiões onde ainda florescia a ortodoxia grega permaneceu dentro da arte bizantina. E essa arte extravasou em muito os limites territoriais do império, penetrando, por exemplo, nos países eslavos.

PINTURA

A tábua com os Santos Sérgio e Baco que, procedente do convento de Santa Catarina no Sinaí, se conserva agora no museu de Kiev, é um dos exemplos mais felizes chegados até nós. Praticamente indiferenciados, aparecem de frente como imagens simétricas instaladas num espaço sem atmosfera. De qualidade pictórico superior, também mais humano, é o São Pedro do mesmo convento. Nele, as tendências ao esquematismo e a linearidade do ícone de Kiev veem-se temperadas por uma realização infinitamente mais solta, mas sobrevive o essencial: a intensa vida interior que se desprende da figura e a frontalidade e o hieratismo como recursos para apanhar o espectador, ao mesmo tempo como mostra respeito para com este.

Foram precisamente os abusos no culto aos ícones, que frequentemente adotava formas próximas à idolatria, os que proporcionam a ocasião para o início de uma querela política e teológica que transtornou o Império de Oriente durante mais de um século. No ano 726, o imperador Leão III, o Isáurico promulgou um edito contra a utilização de imagens no culto, que encontrou uma forte resistência (começando pelo papa Gregório III) e abriu um período de perseguições contra as imagens (que foram destruídas em grande número) e contra os seus partidários. Com um breve interregno de triunfo da iconofília (787-813) devido à imperatirz Irene, a iconoclastia prolongou-se até o ano 843, quando a imperatriz Teodora fez restabelecer definitivamente o culto às imagens.

Um testemunho importante do que podia ter sido a decoração do período iconoclasta está constituída pelos mosaicos da grande mesquita de Damasco (705-715), de caráter ilusionista, com árvores em primeiro plano que vão dando ritmo ao espaço.

O fim da querela iconoclasta preparou as condições para reafirmação do Império biznatino sob a dinastia dos Macedônios (867-1056). Iniciou-se então a chamada “segunda idade de ouro” da arte bizantina, prolongada através do domínio dos Ducas, Comnemos e Ângelos até que, em 1204, a tomada de Constantinopla pelos cruzados provocou a maior das crises vividas até a essa altura pelo Império de Oriente. Sob os Macedônios, as diretrizes políticas e culturais do período Justiniano converteram-se de ponto de referência básico e Bizâncio recuperou as linhas de desenvolvimento partidas durante o período iconoclasta, orientando a sua vista diretamente para uma nova iniciação, com bases do seu passado cultural: as tradições helenísticas, imperial romana e paleocristã. O resultado foi marcado por características como: predomínio do pictórico sob o linear, com o uso frequente de uma técnica solta, e certo aumento do naturalismo (visível no tratamento mais cuidado dos cenários, na variedade de atitudes dos personagens e na maior correção anatômica).

O “renascimento” macedônio fiel às constantes de desenvolvimento da cultura bizantina e ao seu extremado conservadorismo, acabaria por conduzir nos finais do século X a formulações de grande intensidade, que permaneceram durante quase dois séculos e que constituem talvez a expressão mais típica da cultura bizantina. As principais características desse período são a desmaterialização e a idealização das figuras, assim como a sua frontalidade ou hieratismo, o predomínio linear sobre o pictórico, a renúncia à ilusão de profundidade e a extrema redução dos elementos naturais ou arquitetônicos tende a configurar cenas nas quais, muitas vezes, os personagens aparecem fora do espaço e do tempo, instaladas no sobrenatural.

ESCULTURA

Toda essa atração por decoração aliada à prevenção que os cristãos tinham contra a estatuária que lembrava de imediato o paganismo romano afasta o gosto pela forma e consequentemente a escultura não teve tanto destaque neste período. O que se encontra restringe-se a baixos relevos acoplados à decoração.

A arte bizantina teve seu grande apogeu no século VI, durante o reinado do Imperador Justiniano. Porém, logo se sucedeu um período de crise chamado de Iconoclastia. Constituía na destruição de qualquer imagem santa devido ao conflito entre os imperadores e o clero.

MOSAICO

O mosaico é expressão máxima da arte bizantina e não se destinava apenas a enfeitar as paredes e abóbadas, mas instruir os fiéis mostrando-lhes cenas da vida de Cristo, dos profetas e dos vários imperadores. Plasticamente, o mosaico bizantino em nada se assemelha aos mosaicos romanos. Eles são confeccionados com técnicas diferentes e seguem convenções que regem inclusive os afrescos.

Neles, por exemplo, as pessoas são representadas de frente e verticalizadas para criar certa espiritualidade, a perspectiva e o volume são ignorados e o dourado é demasiadamente utilizado devido à associação com maior bem existente na terra: o ouro.

SaibaMaisO mosaico consiste na colocação, lado a lado, de pequenos pedaços de pedras de core diferentes sobre uma superfície de gesso ou argamassa. Essas pedrinhas coloridas são dispostas de acordo com um desenho previamente determinado. A seguir, a superfície recebe uma solução de cal, areia e óleo que preenche os espaços vazios, aderindo melhor os pedacinhos de pedra.

Os gregos usavam os mosaicos principalmente nos pisos. Já os romanos utilizavam-nos na decoração, demonstrando grande habilidade na composição de figuras e no uso da cor. Na América os povos pré-colombianos, principalmente os maias e os astecas, chegaram a criar belíssimos murais com pedacinhos de quartzo, jade e outros minerais.

Mas, foi com os bizantinos que o mosaico atingiu sua mais perfeita realização. As figuras rígidas e a pompa da arte de Bizâncio fizeram do mosaico a forma de expressão artística preferida pelo Império Romano do Oriente.

A palavra ícone é de origem grega e significa imagem. Como trabalho artístico, os ícones são quadros que representam figuras sagradas como Cristo, a Virgem, os apóstolos, santos e mártires. Em geral, são bastante luxuosos, conforme o gosto oriental pela ornamentação suntuosa.

Ao pintar os ícones usando a técnica de têmpera ou encáustica, os artistas recorriam a alguns recursos para realçar os efeitos de luxo e de riqueza. Era comum revestir a superfície da madeira ou placa de metal com uma camada dourada, sobre a qual pintavam a imagem. Para fazer as dobras das vestimentas, as rendas e os bordados, retiravam com um estilete a película de tinta da pintura. Assim, essas áreas adquiriam a cor de ouro do fundo. À vezes colocavam joias preciosas e chegavam a confeccionar coroas de ouro para as figuras de Cristo e de Maria.

Geralmente os ícones eram venerados nas igrejas, mas não era raro encontrá-los em oratórios familiares, pois ficaram populares entre os gregos, balcânicos, eslavos e asiáticos. Os ícones russos da cidade de Novgorod, onde viveu, no início do século XV, André Rublev, célebre pintor desse gênero de arte.

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