Pesquisar
Close this search box.

Arte Gótica Espanhola

Lápis de Cor, Faber-Castell, EcoLápis Supersoft, 50 Cores, Multicolorido

O gótico espanhol caracteriza-se pelo emprego do arco agudo muito aberto, tendendo para o equilátero, frequentemente dobrado. Utiliza-se a abóboda de berço agudo, que paulatinamente vai sendo substituída pela de ogivas. Em muitos casos a abóboda de ogivas parece antes derivar-se da abóboda de cisterna islâmica, que se constrói partindo de um casquete esférico, com disposição concêntrica das fiadas, cuja estabilidade se assegura mediante arcos que se situam nas arestas entrantes.

Os pilares deste período são simples, com colunas nas frentes, frequentemente duplas.  Os mais antigos não têm colunetas nos ângulos em correspondência com o arranque das ogivas, pelo que costumam embutir-se ou apoiarem-se em mísulas, elementos que apoiam o arco. Já numa segunda etapa dispõem-se colunetas nos ângulos e inclusive aparecem outras mais delgadas em correspondência com a moldura dos arcos.

As janelas se organizam em forma de arco agudo que engloba outros dois e por cima um óculo. Na decoração nota-se a tendência para introduzir o naturalismo nos motivos vegetais e dispor cenas em faixa, de caráter narrativo unificando os capitéis.

Nas plantas seguem-se geralmente modelos muito influenciados pelas construções românicas: dá-se primazia ao modelo basilical de três naves, com cruzeiro e cabeceira com capelas. Nas capelas absidais passa-se paulatinamente de planta redonda para poligonal, circunstância que é determinada pelo tipo de abóboda com que se cobrem de ogivas e depois de cruzaria concentrando os empuxos nos pontos concretos, legíveis em planta como vértices.

Um primeiro grupo de construções, em que se pode incluir a catedral de Zamora, a catedral velha de Salamanca, da Ciudad Rodrigo e a colegiada de Toro, aparece muito inspirado nas obras que contemporaneamente se realizam no sudoeste da França, na Aquitânia.

A catedral de Zamora iniciou-se e, 1511 de acordo com planta românica e consagrou-se em 1174, embora as obras ainda estivessem por concluir. Destaca-se o zimbório sobre perxinas, com decoração de escamas do trasdorso.

Um segundo grupo corresponde mais à influência da escola francesa da Borgonha e temo seu exemplo mais representativo na catedral de Ávila, devida a Mestre Fruchel. Esta nos oferece uma solução com nicho, que se evidencia no exterior como grande torreão da muralha, embebendo-se as capelas como bancos de pedra na espessura da parede. E, vemos aparecer aqui pela primeira vez a abóboda hexapartida.

Fundindo-se às vezes com formas que derivam deste grupo, propaga-se no último terço do século XII um importante conjunto de edifícios, desde Catalunha a Castela, cujas características essenciais são o emprego do arco agudo dobrado, das abóbodas de berço agudo e de ogivas e, especialmente, a utilização sistemática do pilar com duplas colunas encostadas, segundo o modelo beneditino. E na cabeça deste terceiro grupo a catedral de Tarragona, de três naves de cinco tramos, cruzeiro com magnífica cúpula octogonal de cruzaria e três absides na cabeceira. Iniciou-se em 1917 e a sua influência nota-se na construção da catedral de Lérida (1203/78), de três naves muito curtas com apenas três tramos, cruzeiro legível em planta com esplêndida abóboda de cruzaria sobre trompas, e ampla cabeceira de cinco capelas.

O grupo mais avançado e que antecipa de maneira clara a etapa clássica da arquitetura gótica na Espanha é o que segue as formas da arquitetura do domínio real francês, da Ïle-de-France, com evidentes influências normandas, o que manifesta particularmente no emprego da abóboda hexapartida. Apresentam essas características a igreja de Roncesvalles (1219). O rei Sancho VII mandou construir esta Colegiata como igreja hospitalaria de Roncesvalles, cuja finalidade era assistir os peregrinos do Caminho de Santiago depois de cruzarem os Pirineus.

Em finais do primeiro quarto do século XIII introduzem-se em Castela as formas da arquitetura gótica clássica que haviam triunfado na França com a construção das grandes catedrais de Chartres, Reims, Amiens, Bourges e Le Mans, fundamentalmente.

As catedrais castelhanas a que nos referimos são as de Burgos, Toledo e Léon. As três estão claramente de acordo com o modelo francês ad triangulum, caracterizado pelo acentuado desnível entre as naves. As obras da catedral de Burgos iniciaram-se em 1221 ou 1222 no local da antiga catedral românica e duraram até 1458. A primeira pedra da catedral de Toledo colocou-se em 14 de agosto de 1226 e foi terminada em 1291. Em 1289, o presbitério fica como capela real funerária onde colocaram os restos de Alfonso VII e Sancho III. A terceira grande catedral desta época é a de Léon, que deve ter sido iniciada por volta de 1250 e que no essencial concluiu-se cerca de 1300.

No século XIV, a arquitetura catalã alcança a primazia, pois é na Catalunha, ou em ligação com ela, que se constroem edifícios mais característicos e importantes. Barcelona converte-se no centro cultural e político da Coroa de Aragão. A construção da catedral de Barcelona, iniciada em 1298, de cujas obras se encarregou o marroquino Jaume Fabre, pelo menos a partir de 1317. As obras foram realizadas com grande rapidez, alcançando o cruzeiro antes de 1340. Nessa catedral são peculiares as capelas laterais, de dois pisos e duas por tramo; a ampla cripta debaixo do presbitério, onde se colocou o sepulcro de Santa Eulália; a charola rodeada por capelas; a disposição das torres, duas octogonais sobre base retangular no cruzeiro e uma grande sobre trompas, e o amplo claustro rodeado por capelas. Proliferação de capelas que corresponde sociologicamente à importância de grêmios, mercadores e burguesia da sociedade catalã do período gótico.

O século XIV é uma etapa de relativa crise para a arquitetura gótica castelhana, em virtude de guerras civis, do esforço requerido para completar os grandes programas arquitetônicos do século anterior e do grande desenvolvimento que por essa altura vive a arquitetura mudéjar.

Em Andaluzia a arte gótica fica praticamente anulada pela pujança das soluções mudéjares, mantendo as estruturas góticas unicamente nas capelas-mor ou em capelas particulares, já que os templos correspondem fundamentalmente a um padrão mudéjar.

Dentro da arquitetura civil é preciso assinalar a grande importância das construções da Coroa de Aragão, sobretudo catalãs. Inicia-se um tipo de palácio que irá manter-se no século XV: ampla fachada de dois ou três corpos, onde se abre descentrada a porta, geralmente um grande conjunto de aduelas; janelas duplas ou triplas de arcos agudos ou formando três lóbulos, sobre esbeltíssimas colunetas, enquadrando o vão por uma moldura sobre mísulas com decoração vegetal; o pátio costuma ter a escada encostada a um lado, deixando a parede lisa ou com simples janelas e vãos na parte inferior, enquanto que na parte alta se situa uma galeria de arcos agudos sobre delgadas colunas com simples capitéis vegetais; o interior dispõem-se grandes salas com teto que, quando é preciso, assenta sobre arcos diafragma.

No terreno da arquitetura militar assistimos a uma profunda transformação devida particularmente à difusão do emprego da pólvora, ao crescimento das aglomerações urbanas e ao fortalecimento do poder real, já que nesse momento se inicia um processo que culminará no século XV com a instauração da monarquia absoluta. Se, por um lado, as fortificações têm de ser mais poderosas e complexas tornando-as proibitivas para a pequena nobreza. Ainda se constroem castelos, cada vez mais sobre o modelo do castelo-palácio que proliferará no século XV; mas são relativamente poucos os que chegaram até nós no seu traço original, já que, à ação destruidora do tempo, se uniria a inimiga da burguesia e dos monarcas, pelo perigo que aquelas fortalezas podiam significar para o poder real e cidadão.

Paralelamente, as cidades fortificam os seus recintos, mas mais com finalidade fiscal do que militar, isto é, para controlar as entradas e saídas de mercadorias. Constroem-se nesta época portas monumentais, em geral com vão enquadrado por torres, das quais é um bom exemplo a de Serranos de Valência erigida por Pere Balaguer entre 1396 e 1398, inspirando-se na Puerta Real de Poblet.


COMO CITAR:


IMBROISI, Margaret; MARTINS, Simone. Arte Gótica Espanhola. História das Artes, 2025. Disponível em: https://www.historiadasartes.com/nomundo/arte-medieval/arte-gotica/arte-gotica-espanhola/. Acesso em 29/03/2025.

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp

Assine nosso Feed

Digite seu endereço de e-mail para assinar este blog e receber notificações de novas publicações por e-mail.

plugins premium WordPress