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Arte Mudéjar

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Arquitetura Mudèjar

Em geral, entende-se por arte mudéjar a arte na qual predominam os elementos construtivos ou decorativos de influência islâmica e que são executados em território cristão da península Ibérica por artistas mulçumanos ou cristãos. Portanto, o mudéjar não é um estilo puro: combinam-se, frequentemente, técnicas e linguagem artísticas com outros estilos, dependendo do momento histórico. Assim, existe o mudéjar, mas também o mudéjar romântico, mudéjar gótico e mudéjar renascentista.

Inicia-se na segunda metade do século XII, e é fruto da incorporação e permanência de comunidades mulçumanas nos territórios reconquistados pelos cristãos; são comunidades que vivem pacificamente submetidas, praticando suas artes e ofícios e facilitando, com baixo preço de sua mão de obra, a difusão de suas técnicas artísticas. Até o ponto que chegam a criar um estilo verdadeiramente nacional, aceito em todos os níveis da sociedade cristã.

O século XVI marca um momento de máxima expansão desta arte, pois no século XV a magnificência das formas flamejantes determina uma retração na difusão das formas mudéjares, embora em aspectos decorativos e nas artes aplicadas mantenha o mudéjar uma extraordinária energia. Sua etapa final, como arte mudéjar, deve situar-se entre 1502 e 1526, datas que em Castilha e em Aragão, respectivamente, é abolido o culto islâmico. Quanto às áreas de sua difusão, concentra-se basicamente na ampla zona situada entre León e Tejo até La Mancha, na zona meridional da bacia o Ebro e na bacia do Guadalquivir.

A arquitetura mudéjar caracteriza-se pelo uso do tijolo como material principal. Não criou estruturas próprias, ao contrário do gótico e do românico, mas reinterpretou os estilos ocidentais através de uma perspectiva muçulmana. O caráter geométrico, característico do Islã aparece nas artes acessórias, empregando materiais baratos – azulejo, tijolo, madeira, gesso, metais – trabalhados de forma elaborada, sendo destacado o artesanato. Mesmo após os muçulmanos deixarem de ser empregados na construção, as suas contribuições mantiveram-se como parte integral da arquitetura espanhola.

A arquitetura mudéjar oferece notável complexidade em sua evolução, determinada fundamentalmente pela diversidade de suas raízes. Em sua estrutura e traçado geral, os edifícios correspondem ao estilo cristão do momento, Românico e Gótico, e a influência islâmica é também diversificada uma vez que, arrancando as formas parciais, chega a fazer uso dos sistemas decorativos nazarís, sobre os quais acaba exercendo influência.

Podemos dividir a arte mudéjar em três escolas: uma inicial, inicialmente toledana, outra, que chamaremos de românica-mudéjar, e uma terceira e final que caracterizamos como gótico-mudéjar.

Etapa inicial Toledana

No mudéjar castelhano cabe distinguir uma etapa inicial constituída pelas construções toledanas das comunidades moçárabes que permanecem na região até meados do século XIII. Estas, que tinham certos privilégios sob o domínio mulçumano, mantiveram, depois da conquista cristã da cidade, seus costumes e formas artísticas, até que a meados do século XIII foram absorvidas pela maior força das formas românico-mudéjares criadas em Castilha a Velha. Neste contexto encontramos uma série de edifícios, como as paróquias toledanas de São Sebastião, Santa Eulália, São Romão e São Lucas, fundadas antes da conquista mulçumana, que no século XII, tiveram que ser reconstruídas mantendo-se as formas da arquitetura islâmica. Estas igrejas caracterizam-se pelo emprego do tijolo e a alvenaria de pedra encintada, e o aproveitamento de fustes e capitéis visigodos (exceto em São Lucas, onde observamos pilares de tijolo cortados de forma octogonal, como mais tarde será frequentemente utilizado na arte mudéjar). Em São Romão surge o pilar de tijolo com colunas geminadas, que parece ter um precedente em Santa Eulália, embora nesta tenham desaparecido os pilares, deixando as colunas aparentes em uma reforma posterior. São igrejas basilicais de três naves, com planta retangular ligeiramente alongado em forma de ferradura.

Três torres podem ser consideradas como característica desse momento: as de Santiago do Arrabal, São Lucas e São Sebastião. A mais importante é a primeira, de tijolo e alvenaria em pedra encintada sobre embasamento de pedra, com pilar central e escada ao seu redor, que são características comuns das três, assim como a disposição nas escadas, de abóbodas de tijolos formando saliências. O exterior é liso, excetuando um óculo e uma janela dupla.

Em Toledo, destacamos também as sinagogas de Santa María la Blanca e de El Tránsito, ambas mudéjares, mas não cristãs.

Etapa Românico-Mudéjar

O repovoamento de Toledo com a chegada de castelhanos de Meseta determinou a introdução de formas românicas e protogóticas, o que supôs uma profunda renovação no mudejarismo toledano. O fato é que isso não exclui uma influência inversa, ou seja, de Toledo sobre a terra de Campos, perante as mais ricas e variadas soluções que ofereciam as cabeceiras das igrejas toledanas.

Nesta segunda fase do mudéjar toledano predominaram os arcos dobrados do meio ponto, as absides semicirculares e as superposições de arquerias em absides e torres, que ocultam, na realidade, pobres estruturas de alvenaria de pedra, de cal e pedra, que são revestidas de arqueria de tijolo. Assim mesmo, inicia-se a influência almohade e o repertório decorativo que estabelece a ligação com as grandes criações da etapa gótico-mudéjar e com a arte granadina.

Num primeiro momento desta fase, que corresponde fundamentalmente ao século XIII, pertencem elementos da fachada de Santo Andrés, a igreja de Santiago do Arrabal, as cabeceiras de Cristo da Luz, Cristo da Veja e da velha paróquia do Santo Antolín. Um segundo momento dessa fase, que poderia situar-se em torno da primeira metade do século XIV, está representado por igrejas que vamos incluir na etapa gótico-mudéjar, embora mantenham análogas características, como fruto de uma evolução da arte local toledana.

A igreja de Santiago do Arrabal corresponde a meados do século XIII, o epitáfio é de 1265 nos oferece um modelo relativamente avançado, pois suas formas cristãs evidenciam a influência de soluções do momento inicial do Gótico. É uma igreja de três naves, com três arcos pontiagudos de separação, sobre pilares de tijolo; a nave central está coberta com teto em duas vertentes com fileira central o beirais nas laterais; amplo cruzeiro com abóbodas semicirculares preeminentes, reforçadas com ogivas, e perfeita cabeceira românica, formada por trecho reto com abóboda de canhão pontiagudo e de forno nos três absides semicirculares. Suas fachadas são de grande interesse, pois são as únicas conservadas nas igrejas mudéjares toledanas; a inferior, bem reconstruída, tinha pequenos arcos lobulados entrelaçados encima do vão; a entrada lateral estava coberta por um grande arco lobulado e encima duas fileiras de arcos também lobulados sobrepostos, enquadrada por dois pilares estreitos de tijolo que deveriam terminar em ménsula, pequena saliência para apoio de objeto, antecipando um modelo que veremos nos palácios do século XV com trabalho de retícula na parte central como no Cristo da Luz. No exterior, na cabeceira, a abside central nos oferece na parte inferior duas fileiras de arcos semicirculares de tijolo e na superior um pontiagudo dobrado; nas laterais, dois andares, embaixo dos arcos de meio ponto dobrado e encima outro lobulado que alberga um segundo de ferradura pontiagudo.

Etapa Gótico-Mudéjar

Cronologia do gótico-mudéjar estende-se desde princípios da segunda metade do século XIII até princípios do século XVI, coexistindo com o desenvolvimento da arquitetura gótica e, do mesmo modo, no Douro médio, fundamentalmente em Terra de Medina, com as formas evolucionadas do românico-mudéjar que se desenvolve com a independência.

Neste período devem-se distinguir quatro escolas que, embora tenham características comuns, mantém formas peculiares. Em primeiro lugar, as duas Castelas, intimamente ligadas, mas com evolução independente; depois, Andaluzia e Aragão. Nas quatro assistimos à introdução das formas e técnicas da arquitetura gótica, inclusive nos seus elementos, organizações e ordenação dos sistemas decorativos, que se fundem com sistemas ornamentais, formas e técnicas islâmicas, que num princípio derivam da arte almohade e mais tarde coincidem com as formas de arte granadina. Embora sejam construídos numerosos templos, dado o caráter popular que o estilo adquire, deve-se destacar o grande desenvolvimento da arquitetura civil, assim como o grande número de capelas particulares que são erguidas em função das condições sociais do momento e, evidentemente, em razão do baixo custo das construções, embora ofereçam extraordinária grandiosidade e funcionalidade.

São características comuns da organização da igreja de tipo basilical, de três naves separadas por arcos pontiagudos que se apoiam em pilares de tijolos, geralmente oitavados quebrando-se as arestas; as naves cobertas com telhado, a par e nudilho com tirantes e enriquecendo o almizate (plano paralelo ao chão do teto), assim como com frequência os faldões (planos inclinados), com trabalhos de laços e menado (trabalho de talha recortando os perfis das madeiras e tabuinhas), introduzindo-se ao mesmo tempo o moçárabe, já na segunda metade do século XIV. As cabeceiras de planta poligonal destas igrejas mudéjares são cobertas geralmente com abóboda de cruzamento e, muito raramente, com telhado oitavado ou cúpula de gesso e tijolo. Os adornos interiores das paredes são embranquecidos com cal, acrescentando, no máximo, alguns pequenos azulejos, como rodapé. As janelas abrem-se em arco pontiagudo, deixando a cor do tijolo que contrasta com o branco das paredes, e decoram-se os parâmetros exteriores das paredes com faixas de arcadas ou, com frequência, deixam-se lisos. A torre, geralmente, na parte inferior, flanqueia uma porta que se assoma sobre o parâmetro da fachada, com contorno de tijolo. As capelas são enriquecidas com coberturas, entre as quais se encontram os mais belos tetos e abóbodas, sendo suas paredes e arcos decorados com riquíssimas obras de gesso, com peculiaridades diversas segundo as escolas.

Um bom exemplo é mosteiro de Las Huelgas, onde destacamos a capela da Assunção, a decoração das abóbodas do claustro e as capelas de Santiago e do Salvador, todas do século XIII.

A evolução do gótico-mudéjar castelhano está claramente situada em uma das mais características e belas cabeceiras mudéjares de Castela, que corresponde a uma igreja de três naves bastante reconstruída: a de São Paulo de Penhafiel (Valhadolid), iniciada pouco depois de 1324 e que deve ter sido terminada em 1340. Esta cabeceira, de planta poligonal, combina a pedra do embasamento com o tijolo, como em Toledo e em partes do muro entre os contrafortes dos arcos pontiagudos de ferradura com os lobulados, como na Peregrina de Sahagún. Assim mesmo, nos contrafortes são organizadas as combinações de arcos lobulados e arcos de ferradura tanto pontiagudos como semicirculares, jogando inclusive com os efeitos decorativos dos vãos cegos.

Junto a estes edifícios religiosos cabe mencionar dos civis: o palácio de Tordesilhas (Valhadolid) e o de Astudilho (Palência), dos quais somente há ruínas, mas suficientes para avaliar a importância mudéjares na arquitetura civil deste período.

Fecha-se assim o ciclo das formas estritamente mudéjares de Castela com as construções do fim do século XV em Terra de Campos, onde se proliferaram igrejas de taipa, de uma a três naves, neste caso com pilares e arcos pontiagudos e cabeceira quadrada ou poligonal. São cobertos por ricos telhados de madeira, de par e nudilho nas naves, e octogonal com decoração de laços e almocábares no presbitério, mantendo-se este tipo de teto como persistência da influência mudéjar no século XVI.

A última fase do mudéjar andaluz na arquitetura religiosa é representada pelas igrejas granadinas constituídas na primeira metade do século XVI. O protótipo é de uma nave coberta com telhado dividido em trechos por arcos diafragma, dispondo-se no presbitério uma armação oitavada. Exemplos significativos encontram-se na igreja granadina de são José, na de Santa Ana de Guadalix e na de Santiago de Almería. Este tipo mais simples coexiste com o de uma grande nave com telhado de artesã com tirantes e laçaria no almizate.

O Alcázar de Sevilha é consequência da reforma e ampliação do antigo palácio almohade, no século XIV. É característico seu estreito vínculo com a arte granadina, que está presente na sala da Justiça, considerada nos últimos anos o reinado de Alfonso XI, ou seja, de pouco antes da metade do século XIV, decorada com gesseiras do tipo granadino e empregando arcos de meio ponto crenados como os granadinos e com decoração heráldica. Mas é no período do rei Pedro I (1350-1369) ao que corresponde a construção do novo palácio, constando à construção da fachada em 1364 e as portas do salão de Embaixadores 1366. Em sua construção participaram mestres granadinos, carpinteiros de Toledo e, provavelmente, gesseiros de Córdoba. O palácio abre-se ao pátio interior de Montería com uma organização que evoca o modelo de três direções como o da porta da mesquita de Córdoba, destacando-se a entrada central. Esta entrada dá acesso a uma passagem esquinada, como na Alhambra, desembocando numa esquina do grande pátio das Donzelas, com arcos lobulados sobre colunas, reformado no século XVI.

No eixo principal desse pátio situa-se o grande salão do Trono ou dos Embaixadores, com magnífica decoração em gesso coberta com teto de laçaria, semiesférica, apoiada em trompas de amocárabes, que construiu o mestre Diego Ruiz em 1427.

Neste salão abrem-se vãos de três divisões, com arcos em ferradura semicirculares, de pura raiz de Córdoba, com riquíssima decoração. Na zona mais resevada situa-se o Pátio das Donzelas, restaurado no século XIX; e a ambos os lados do Pátio das Donzelas estão dispostas as salas com alcovas nos extremos, como era frequentemente nas construções toledanas. As restaurações neo-mudejarismo muito em voga na época de Isabel II, e posteriormente, introduziram numerosas reformas, já que este palácio foi continuamente utilizado pela família real.

É necessário ressaltar a importância, tanto pela qualidade a sua decoração como por sua antecipada cronologia, dos restos da sinagoga de Córdoba, construída por Isaac Mejeb em 1314. É uma sala retangular com magnífica decoração em gesso talhado com policromia em branco, azul e vermelho e motivos de redes de losangos e arcos de maio ponto de curvatura acentuada, guardando uma íntima relação com as obras toledanas.

Outra característica é a organização decorativa de parâmetros e torres. Estão dispostos em faixas horizontais, formando retângulos, nos quais se desenvolve o trabalho de lançaria e combinações de arcos dos mais diversos tipos, realçando o efeito ornamental através do abundante emprego de cerâmica vitrificada, sem repetir os motivos. É este trabalho que denominamos “trabalho de bordados”, que podemos ver no repertório dos trabalhos têxteis. Estes trabalhos podem ser tanto em tijolo, como esgrafiados (técnica de pintura, a fresco, que consiste em aplicar sobre um fundo preto de estuque uma camada de tinta branca, arranhada posteriormente com estilete, de modo que o fundo apareça em forma de sombras) ou pintados nos interiores, conforme observamos nos exemplos zaragozanos de Cervera da Canhada, Tobbed, Maluenda e Torralba de Ribota.

Típicas também são as torres de planta quadrada com corpo superior de campanário quase sempre de planta octogonal. Em sua estrutura costumam se manter os minaretes islâmicos almohades, isto é, uma torre interior envolta pela exterior, situando-se as escadas no espaço intermediário.

São escassos os claustros mudejáres aragoneses de planta quadrada ou ligeiramente retangulares, com vãs que se abrem em arco pontiagudo da mesma altura que as abóbodas de suas coxias, de cruzamento simples.

Em atenção às escolas, podemos considerar três centros fundamentais: o de Teruel, o de Zaragoza e o de Calatayud. Em Teruel, temos a catedral de São Martinho e a igreja de São Pedro. Correspondem ao século XIV as igrejas zaragozanas da Magdalena e de São Miguel dos Navarros, de Santa Maria de Tobed, Torralba de Ribota e Santa Maria de Maluenda. O grupo de Calatayud caracteriza-se pelo abundante uso da cerâmica esmaltada. Sua obra-prima foi a desaparecida igreja de São Pedro Mártir, onde trabalhou Mahoma Rami. Na própria Calatayud são típicas as igrejas de São Pedro dos Francos e de Santa Maria, que parecem corresponder ao século XIV, embora muito reformadas. Do século XV é a de São Francisco.


COMO CITAR:


IMBROISI, Margaret; MARTINS, Simone. Arte Mudéjar. História das Artes, 2025. Disponível em: https://www.historiadasartes.com/nomundo/arte-medieval/arte-gotica/arte-mudejar/. Acesso em 29/03/2025.

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