Raffaello Sanzio – Rafael – nasceu a 6 de abril de 1483 no ducado de Urbino, região central da Itália. Pouco se sabe de sua mãe, Magia Ciarla, mas seu pai, Giovani Santi, foi poeta e pintor, tendo sempre trabalhando na sofisticada e próspera corte de Urbino.
Rafael era uma figura meiga e simples por natureza. Tendo sido criado desde a mais tenra infância dentro da corte de Urbino, teve oportunidade não só de adquirir cultura, como também de entrar em contato com patronos influentes. Supõe-se também que o jovem Rafael tenha assistido o pai no trabalho e, embora o talento de Giovanni fosse limitado, a atmosfera artística em que viviam estimulou o desejo do rapaz de se tornar pintor.
Em 1491, a mãe de Rafael morreu. Três anos mais tarde, falecia também o pai, deixando-o órfão aos 11 anos. Ficou sob a tutela de um tio, um padre de nome Bartolomeo. Não existem registros sobre os seis anos seguintes da vida de Rafael. Mas sabe-se, pelo início de 1500, deixou Urbino, indo para a Perugia trabalhar no estúdio de Pietro Perugino.
Quando Rafael chegou a Perugia, seu mestre estava pintando uma série de afrescos para o Collegio del Cambio (Associação de Banqueiros), e Rafael deve tê-lo ajudado nessa tarefa. Mas já era um artista independente, trabalhando por vezes com seu conterrâneo Evangelista di Piandimeleto.
Permaneceu com Perugino por quatro anos ou mais, pintando altares e retábulos para igrejas de Perugia e da vizinha Città di Castello. Continuava, porém, ligado à corte de Urbino, criando belos painéis de temas sacros para o Duque Guidobaldo de Montefeltro.
Sua carreira foi desde o início marcada por um ávido desejo de aprender, de assimilar novas ideias. Sem se deixar ofuscar pelo renome que já desfrutava em Urbino, decidiu desvendar horizontes mais amplos, partindo para Florença. Chegou em outono de 1504, aos 21 anos de idade. A experiência em Florença foi estimulante para um jovem artista, porque foi um período de importantes acontecimentos na capital da Toscana: a estátua de mármore do Davi de Michelangelo tinha acabado de ser instalada em frente à sede da Prefeitura, e Leonardo da Vinci trabalhava na Batalha de Anghiari para a Câmara do Conselho.
Florença e Roma
Estimulado pela experiência dos desenhos de Leonardo da Vinci, começou a exercitar-se no tema da Virgem como o Menino, produzindo a primeira das belas madonas que o celebrizaram. Juntamente com alguns eventuais retratos, essas madonas compunham quase todo o trabalho que executou por encomenda durante os quatro anos vividos em Florença.
Em 1508, Rafael foi incumbido de uma tarefa que iria mudar o curso de sua carreira – e de sua vida: a decoração dos aposentos papais (as Stanze) para o Papa Júlio II. No ano anterior, o pontífice, indignado, decidira que não poderia mais morar nos apartamentos dos Borgia, convivendo com os afrescos claramente autopromocionais encomendados por seu antecessor Alexandre VI. Assim sendo, Júlio II convocou uma equipe de artistas para decorar quatro salas do segundo andar do Palácio do Vaticano.
Essa equipe era integrada, entre outros, por Bramantino, de Milão, e por Perugino. Rafael logo seria também convocado e, já em 1509, era nomeado pintor oficial da corte pontifícia. O trabalho estava em andamento quando Rafael foi chamado a assumir a inteira responsabilidade pela decoração. Isso significava que teria o direito de pintar sobre o trabalho já realizado. Mas num ato de extrema delicadeza, deixou intacta no teto a pintura feita por seu mestre, Perugino.
A decoração da primeira sala, a Stanza della Segnatura (o local onde eram assinados os documentos oficiais), ocupou Rafael pelo período de três anos, ou seja, de fins de 1508 até 1511, e afirmou sua reputação como o mais importante pintor de Roma.
O auge do prestígio
Em 1511, Rafael executou o primeiro dos inúmeros trabalhos encomendados por Agostino Chigi, abastado banqueiro de Siena, amigo íntimo e conselheiro de Júlio II. Entre 1508 e 1511, esse homem requintado, de grande poder e influência, mandara construir uma suntuosa villa, a cargo do arquiteto Peruzzi, fora das muralhas de Roma.
Para valorizar ainda mais sua propriedade, Chigi pediu a Rafael para pintar um afresco na Loggia do jardim de sua residência. Foi assim que criou O Triunfo de Galatéia, tela vagamente inspirada numa cena da mitologia clássica. A qualidade desse trabalho levaram Chigi a encomendar uma série de outros trabalhos, incluindo o projeto para sua própria capela mortuária na Igreja de Santa Maria del Popolo.
A disposição de Rafael para o trabalho era algo impressionante. Quase simultaneamente (meados de 1511), iniciava os trabalhos no segundo dos aposentos de Júlio II – a Stanza d’Eliodoro. O papa não viveu para ver o trabalho concluído, morrendo em fevereiro de 1513. O sucessor do papa Júlio II, o requintado e generoso Leão X, reconheceu o talento de Rafael, e a Stanza d’Eliodoro foi completada para o novo papa.
Em agosto de 1514, foi nomeado arquiteto oficial do papa, sucedendo a seu amigo e conterrâneo Bramante. Logo assumiu a responsabilidade de dar prosseguimento aos projetos de construção da Basílica de São Pedro. Ao mesmo tempo em que era designado para decorar uma terceira câmara no Vaticano, a Stanza dell’Incendio.
Em 1514, o influente Cardeal Bibbiena ofereceu-lha sua sobrinha, Maria, como esposa – uma clara indicação do status e da popularidade de Rafael junto à corte papal. Sem querer ofender Bibbiena, Rafael concordou relutante, mas sempre adiava o enlace, e Maria acabou morrendo antes que o matrimônio fosse realizado.
Famoso por seu encanto pessoal, por sua serenidade e doçura, Rafael manteve inúmeros envolvimentos amorosos, embora a ligação mais duradoura pareça ter sido com uma cortesã, a lendária Fornarina.
Acúmulo de compromissos
Em 1515, Leão X nomeou Rafael como superintendeste das ruas e antiguidades de Roma, um cargo que o fazia responsável pela reurbanização e preservação da cidade. Na busca dos materiais requeridos para a edificação da basílica, o papa decidiu aproveitar fragmentos de mármore obtidos em escavações arqueológicas. Para assegurar-se de que nenhum fragmento contendo inscrições clássicas fosse destruído, o papa decretou que os trabalhos de escavação fossem realizados na presença de Rafael.
Além dessa tarefa, que ele levou adiante com desenvoltura, assumiu um projeto de reconstrução da planta da cidade, tal como era no período imperial. Era um trabalho gigantesco, que, juntamente com o projeto de construção da Basílica de São Pedro, acabou por desviar a atenção de Rafael da pintura. Mesmo assim, ainda encontrava tempo para desenhar os cartões que serviriam de modelo para a elaboração de uma série de dez tapeçarias encomendadas por Leão X para enfeitar as paredes da Capela Sistina.
Em vista do acúmulo de compromissos, Rafael começou gradualmente a delegar trabalhos a assistentes. De fato, a decoração da Stanza dell’Incendio, realizada entre 1514 e 1517, foi, em sua maior parte, feita por Giulio Romano e Gianfrancesco Penni, a partir de um projeto original de Rafael. E o último trabalho que fez para Chigi foi inteiramente elaborado por seus assistentes, embora o projeto do desenho fosse certamente de Rafael.
Artista criticado
Os rivais de Rafael rapidamente começaram a apontar a qualidade inferior desse trabalho na villa de Chigi. Apesar disso, quando Rafael voltou a pintar, provou que seu talento ainda estava vivo. Em 1517, foi contratado pelo Cardeal Giulio de Medici para pintar um painel sobre o tema da Transfiguração para a Catedral de Narbonne, na França. O trabalho não estava perfeitamente acabado, quando Rafael morreu. Mas quando o painel foi revelado sob a aclamação unânime do público, confirmou-se a genialidade do artista.
A Transfiguração foi a última grande obra de Rafael: na primavera de 1520 ele adoeceu. Muito embora Vassari tenha escrito, não sem uma ponta de moralismo, que a debilitação da saúde do artista se devia a excessos na vida amorosa, parece que ele contraiu uma febre fatal. Morreu, prematuramente, no dia de seu aniversário – 6 de abril de 1520 -, ao completar 37 anos.
A seu pedido, foi enterrado no Panteão, templo da Roma Antiga, de arquitetura clássica, que ele admirava muito. Era uma Sexta-Feira Santa – coincidência que acentuou ainda mais o pesar reinante.